__ Corra mais rápido íris – diz meu pai enquanto subia a montanha com rapidez. Seus cabelos escuros conseguiam se destacar em meio a tanta neve, seu corpo flexivo era completamente compatível ao ambiente gelado e escorregadio. Contudo, a cada quinze minutos meu pulmão apertava a procura de folego, e o resultado disso, era uma asma bem agressiva que dificultava cada vez mais o meu progresso.
Minha visão escureceu novamente, me limitando pela decima vez a ver meu pai sumindo entre as árvores carregadas de neve.
Algo em mim, estava formigando, meu peito apertava ativando cada vez mais minha asma! Minha mãe sempre dizia que o desespero era algo que eu deveria lidar em momentos assim, contudo... A dor era surreal. Era como se algo dentro de mim, quisesse sair do jeito mais agressivo possível.
Sinto meu corpo bambear, meu pai não estava mais em meu alcance, tento sussurrar seu nome, porem minha voz estava fraca demais para ser escutada.
__ respira fundo. – diz minha mãe colocando sua mão direita em meu ombro, na tentativa de estabilizar meu corpo.
É inconfundível a presença de minha mãe, é uma mistura de energia muito forte que sinaliza a localização dela a quilômetros de distância, assim que coloquei minha mão no peito senti a sua mistura de energia entre as árvores.
Ela como sempre se esconde em meio as árvores analisando meus passos de longe.
__ estou com frio, mamãe. – tento sussurrar uma frase para a mulher que aproximava a bombinha ate minha boca com rapidez. Era sempre o mesmo processo, minha mãe sempre me segurava em seus braços antes que meu corpo entrasse em colapso. Seus cabelos brancos como os flocos de neve ou os flocos de neve brancos como os cabelos dela era a minha maior distração, amava ver eles levitando conforme o vento passava com agressividade em nosso meio.
Minha mãe retira sua blusa de lã branca e rapidamente coloca a mesma em meu corpo, me esquentando instantaneamente, me deixando coberta dos pés até a cabeça.
__ como está agora? – pergunta minha mãe enquanto eu via tudo a minha volta ficar nítido novamente.
__ estou cansada mamãe! – falo desapontada com minhas palavras.
__ com o que querida? – pergunta a mesma sorrindo com minha cara emburrada.
__ as outras crianças não precisam passar por isso tudo, na verdade, enquanto estou nessa floresta treinando e sufocando a cada 15 minutos, elas estão em casa aproveitando seus brinquedos, suas lareiras e...
__ e você gostaria de ser como todas as outras crianças? – pergunta minha mãe cortando meus argumentos.
__ elas nem na escola estão e eu já tenho que estudar e treinar. – falo respirando fundo.
__ saiba filha que tudo isso é um cuidado que estamos tendo com você, pois, um dia você terá que proteger todo este reino. E para isso não dependera de ninguém. – diz sorrindo
__ mas terei você e o papai. – falo com insegurança.
__ sempre estaremos em seu coração. Mas um dia, algo muito ruim alcançara nosso reino e precisaremos de sua ajuda! – diz minha mãe fazendo um misto de expressão se formar em meu rosto.
__ minha ajuda? — falo animada, porem minha animação logo acaba, pois acabo lembrando que meu estado físico e habilidades são deploráveis.
__sim Iris de Meriti, só você poderá ser um ponto de paz em meio a tanta confusão. – diz minha mãe me abraçando e fazendo com que o peso de meu corpo caísse em cima do dela.
Caímos na neve em meio aos nossos risos, era incrível passar momentos assim com ela.
__ me ajudem aqui por favor! — grita meu pai em meio as árvores.
__ vamos. – diz minha mãe assim que escuta os gemidos de meu pai.
{***}
Era incrível a percepção e o jeito que ela se movia entre as árvores. Habilidade e cuidado se misturavam em sua personalidade forte e destemida. Ela olhava antes de andar, tudo que meu pai dizia ela fazia sem exitar.
__ guarde essa lição que vou te ensinar agora. – diz minha mãe se abaixando em meio a mata alta a nossa frente, observando cada detalhe do lugar. -nunca vá em sentindo reto, sempre observe os arredores, pois, podem usar pessoas que você ama como armadilha. – diz minha mãe mudando o trajeto dos gritos.
__ quem pode fazer isso? – pergunto confusa com suas palavras.
Desde nova, fui submetida a treinamento pesado de defesa pessoal e controle emocional, meus pais sempre disseram que tudo era para garantir minha proteção, mas nunca me disseram de quem eu deveria me proteger!
Isso era o que mais me incomodava em todos esses anos, a falta de uma resposta me causava um enorme desconforto.
__ pessoas ruins. – diz fazendo um movimento estranho com mão.
__ o que devo fazer? — pergunto imitando seus passos.
__ rodeie o ponto foco ate ter certeza que esta tudo limpo. – diz minha mãe rodeando uma árvore onde aparentemente meu pai estava atrás.
__ caso não esteja, o que devo fazer? — pergunto ouvindo a voz do meu pai com muita clareza.
__ arrume um plano de resgate. – finaliza se posicionado atrás da árvore onde saia os gritos do meu pai. – e o mais importante! Nunca vá sozinha. – finaliza mudando a coloração de sua íris castanha para um dourado vivo.
Desde nova, enquanto caminhava pelos corredores do castelo, ouvia algumas empregadas comentarem sobre minha mãe de uma maneira diferente, era como se minha mãe não fosse o que ela aparentava ser. Contudo, nunca foi algo de tamanha importância para mim, pois, mesmo com a presença dos boatos ela ainda sim conseguia manter o respeito por todos do reino, diferente de mim que todos olhavam com desprezo. Mas agora consigo ver que minha mãe é diferente, ate seu modo de agir é divergente ao do meu pai.
__ mamãe. – sussurro assim que minha mãe se posiciona para atacar.
Foi em um piscar de olhos, não havia nem notado quando seu corpo se deslocou para olhar quem estava atrás das árvores.
Seus passos silenciosos foram extraordinários, minha mãe era sem dúvida melhor que meu pai nesse requisito, se ela não fosse a rainha com certeza seria a melhor guerreira de meu reino, o reino de Dork e meu pai com certeza tem muito orgulho por ter ela como aliada.
__ ele esta bem Iris, pode se aproximar. – diz minha mãe em um tom menos tenso do que antes.
__ papai – falo insegura olhando atrás da árvore onde meu pai e minha mãe se encontrava no chão. – papai. – repito a mesma palavra mais alegre ao ver que ele estava bem.
__ esta tudo bem, escorreguei e quebrei a perna. – diz um pouco envergonhado enquanto olhava para osso fora do lugar.
__ no três a gente arruma isso. – diz minha mãe serena com meu pai. – preste bem atenção Iris, você precisara disso um dia. – diz a mesma que posiciona suas mãos em cima do osso e em minutos desloca o osso de meu pai para o lugar com rapidez fazendo meu pai gritar de dor. – precisamos leva-lo para a enfermaria do reino... – diz minha mãe abaixando o tom de voz dela assim que um barulho de galho se quebrando ao nosso redor tomou o local.
Meu corpo havia formigado novamente, porem minha respiração estava estabilizada.
Havia algo errado entre as arvores.
'' pelo visto a sua filha também tem habilidades sensoriais''
__ o que? - sussurro ao ouvir a voz em minha mente.
__ íris, vá para trás. – diz minha mãe que pelo visto havia sentindo a mesma coisa que eu.
__ o que foi? — diz meu pai confuso.
De repente, entre as arvores um enorme lobo branco aparece mancando em nossa direção. Era como se minha mãe e ele estivesse se comunicando, pois entre os dois não havia sinal de ameaça. Era notório que estava acontecendo algo entre os dois, porem minha mãe permanecia travada em seu lugar.
O lobo se esforçava muito para se aproximar de minha mãe, contudo, perdia muito sangue.
Antes mesmo de chegar ate minha mãe o lobo caiu na neve ameaçando fechar os olhos, minha mãe rapidamente largou a posição de ataque e aconchegou o lobo em seus braços, ela tremia e chorava enquanto o lobo respirava fundo, o contato visual dos dois estava cada vez mais instável ate que por fim o lobo fechou seus olhos finalizando a comunicação entre os dois.
O que foi isso? o que minha mãe estava fazendo com uma criatura noturna em seus braços?!
__ mamãe. – falo colocando a mão em seu ombro a fazendo voltar a realidade.
Minha mãe ainda estava travada, ela não se mexia e nem respondia minhas palavras, estava aflita. Ela tinha sentimentos por essa criatura, assim que coloquei minha mão em seu ombro senti sua dor tomar o seu ser.
De repente algo escuro e sombrio passa entre as árvores de uma maneira peculiar, a criatura penetra seu olhar no meu, repetindo algumas palavras que no momento era desconhecida por mim, por algum motivo senti minhas costas estalarem e meus olhos queimarem. Era como se minha alma tentasse fugir de meu próprio corpo.
Sinto meu corpo ser levitado e levado para longe do local. A dor e a sensação de estar morrendo me corroía, algo muito forte havia sido acordado em meu corpo. Sinto minha mãe colocar a bombinha em minha boca varias vezes para meu pulmão se estabilizar, mais tudo era inútil.
O peso do universo em meu corpo era agoniante.
__ o selo foi aberto. – diz minha mãe assim que minha blusa se queima no centro das minhas costas.
__ eles chegaram, a guerra irar começar. - diz meu pai em um tom preocupante.
{...}
Consigo escuta de um modo distante o barulho das correntes do reino sendo arrastadas e os portões sendo abertos com rapidez. Consigo ver varias rajadas de luz sendo lançado contra a floresta por alguém que estava ao meu lado. Isto era magia?
__ ENCANTANOS. – por fim um forte clarão tomou todo o reino passando por toda brecha que a floresta possuía de escuridão.
__ me ajudem. – tento sussurra uma frase enquanto via lentamente minha visão ser tomada pelo escuro de minha mente.
__ estamos aqui. – diz meu pai sendo a ultima voz que escutei antes de desmaiar.
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__ íris minha filha, acorde. – diz minha mãe balançando delicadamente meu corpo ate que eu despertasse.
__ mamãe – falo sentindo a mesma me pegar no colo assim que um barulho alto estremece todo reino.
Minha mãe corria pelos corredores do castelo com rapidez, em todo reino só se escutava gritos e choro de crianças,mulheres e homens.
Estávamos sob ataque?
Olho meio atordoada para chão empossado de lama e restos humanos, meu peito pulsava a todo momento. O incomodo ainda estava dentro de mim, porem, desta vez estava controlado.
Minha mãe para de frente a porta do porão e delicadamente desvio meu olhar para o grande espelho ao nosso lado sentindo um pavor me tomar.
Meus olhos, por que estão nessa coloração?
__ porque meus olhos estão azuis, mamãe? – pergunto me encarando no espelho enquanto minha mãe girava a chave na tranca da porta ignorando minha pergunta. — mamãe? – pergunto novamente tentando chamar a atenção da mulher olhando diretamente em seus olhos que também haviam mudado de cor. – seus olhos também...
Travo em minhas palavras assim que minha mãe desce com velocidade as escadas do porão, indo em direção ao túnel que ficava debaixo da terra que papai havia criado em situações de emergência, situações como esta! Ela suspirava fundo e mantia a calma, porem eu conseguia sentir o seu medo.
__ desce na frente filha, eu estou bem atrás de você! – diz minha mãe assim que me colocou no chão para abrir a porta que ficava debaixo do tapete grande e vermelho.
__ não irei sem você. – rebato com os olhos cheios de lagrimas.
__ eu prometo que estarei atrás de você! – diz minha mãe firme olhando diretamente em meus olhos.
Rapidamente me seguro nas escadas descendo com agilidade enquanto minha mãe descia atrás de mim, consertando o tapete e trancando a porta que dava no túnel.
Tudo havia ficado escuro, minha mente não conseguia processar tudo que estava acontecendo, o barulho ao meu redor estava ficando distorcido assim como minha visão também estava ficando.
__ mamãe. — sussurro para a mesma que estala seus dedos fazendo uma pequena bola de fogo flutuante se formar para iluminar o local.
__ você é uma feiticeira. – sussurro enquanto via a bola de fogo mostrar o caminho para ser seguido.
__ venha filha. – diz minha mãe me pegando novamente no colo e correndo ate o final do túnel onde meu pai se encontrava.
__ ela acordou. – diz meu pai me pegando em seu colo e me entregando para um cavaleiro de uniforme vermelho montado em um cavalo preto como a noite.
__mamãe. – falo olhando para meus pais que estavam cobertos de sangue pela roupa.
__ nunca se esqueça, sempre estaremos em seu coração. – diz minha mãe enfraquecendo seu tom de voz.
__ eles estão ali. - grita um homem desconhecido no começo do túnel para outros soldados que estava com ele.
__ te amamos filha. – diz meu pai enquanto fechava a porta do túnel, dando sinal para o cavaleiro começar a correr na direção da boca da floresta.
__ NÃO MAMÃE, PAPAI... - grito aos soluços, ao finalmente reparar que o barulho agudo e alto que eu havia escutado era os sinos de evasão do reino.
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A última domadora de dragões
FantasíaA ausência de amor gera guerras, a presença de guerras gera pessoas vazias com ódio e rancor que abominam a trégua.