Capítulo 20

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Ágatha

Peguei minha latinha de refrigerante e meu prato de yakisoba – sim, eu amo! Me joguei no meu sofá novo, um dos poucos móveis que comprei pro meu apartamento, que tá mais para apertamento, e me senti estranhamente em casa.

Desde que saí do hospital foi tudo uma loucura. Eu conversei muito com minha família sobre voltar a morar sozinha, algo que já estava acostumada desde os anos que passei  em Portugal. Meu argumento principal foi a louca assassina morar no mesmo local que nós, mas a verdade é que eu não tinha medo dela, o principal motivo de ter saído da casa dos meus pais foi tentar evitar ao máximo encontrar com o Martin.

Lógico que só mudar de endereço não seria suficiente, nós ainda trabalhávamos na mesma empresa e na mesma sala, inclusive. Foi outra luta, dessa vez com meu pai, para conseguir sair de lá. Meu pai é um dos sócios, então para ele é incabível sua própria filha recusar sua "herança". A realidade era que eu não queria recusar nada, inclusive eu estava adorando trabalhar na empresa, mas é uma situação que eu preciso esquivar, faria muito mal para minha saúde mental continuar naquele ambiente.

Enfim, as semanas passaram loucamente. Eu passei a organizar meu currículo – algo que não tinha me preocupado pois minha vaga era garantida na empresa do meu pai, e também entrei na correria da busca de um lugar para viver, de preferência com uma localização central e que coubesse no meu orçamento. Eu queria um lugar pequeno, com um quarto só, e de preferência que fosse mobiliado.

Depois de algumas visitas, encontrei meu cantinho e fiz algumas modificações para ficar mais a minha cara. Tudo isso me ajudou a apagar um pouco da memória o Martin, mas é claro que assim que deito a cabeça no travesseiro, a noite, ele vem na minha cabeça com força total.

Liguei a televisão e escolhi o filme da A bela e a fera, fazia tempo que eu não via esses clássicos na Disney. Dei play e comecei a comer e cantar ao mesmo tempo. Antes que pudesse terminar a primeira música do filme, a campainha toca e eu me assusto. Primeiro por ser dia de semana e eu não estou esperando ninguém, segundo por que o porteiro nem ao menos interfonou para avisar que alguém estava subindo... Será que é um vizinho?!

Olhei meus trajes, um short de tactel preto e uma regata branca. Pelo menos meus cabelos estão limpos... Me levantei e segui para porta. Eu podia dizer que me surpreendi quando vi Martin escorado no meu batente, mas não fiquei tão surpresa assim, eu sabia que mais cedo ou mais tarde ele conseguiria meu endereço, provavelmente Erick deve ter dado com as línguas nos dentes.

– Oi. - Ele sorriu, me olhando dos pés a cabeça.

– Achei que eu tivesse sido clara quando disse que não tínhamos nada para conversar. - Falei, azeda.

– Conversa comigo, pequena... por favor. - Suplicou. - Eu juro que te deixo em paz, só vamos conversar um pouco. - Respirei fundo. Eu sabia que não poderíamos fugir dessa conversa, principalmente com ele parado na minha porta e insistindo tanto.

– Entra. - Dei espaço para que ele passasse e logo depois fechei a porta. Sentei-me no sofá com ele ao meu lado. - Fala...

– Eu quero te pedir desculpas... eu sei que te decepcionei, eu sei que errei tentando acobertar alguém que sempre te fez mal, do início ao fim, mas eu fiz tudo pensando no bem do meu filho. Eu quero que você entenda isso, eu errei, admito, depois desses dois meses refletindo, eu concluí que poderia ter lidado melhor com toda essa situação. - Ele segurou minhas mãos, envolvendo-as dentro das suas, mas eu me afastei do seu toque. - Me perdoa, Ágatha, por favor. Eu não quero passar mais cinco anos sem te ver, bloqueado da sua vida.

– Tudo bem... era só isso?!

– Você vai me perdoar? - Seus olhos eram suplicantes. Observei um pouco Martin, ele estava com olheiras e a barba um pouco maior que o normal. A cicatriz no seu supercílio era visível e meus dedos formigaram, eu queria tocar, beijar e dizer que tudo ia ficar bem, mas refreio meu impulso, sabendo que depois de tudo que aconteceu, conseguir o perdoar será quase impossível.

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