"Sentimentos são importantes porque são a única coisa na qual temos certeza.
Não exatamente sobre entendê-los. Mas, mesmo quando não conseguimos decifrar a complexidade do que estamos sentindo, ainda sabemos que estamos sentindo. E, na maioria das vezes, isso basta."— Cemitério Vertical, de Jennie R.J Kim.
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Eu nunca fui uma pessoa de muita fé.Não que eu não tivesse meus momentos, como todo mundo, em que clamava aos céus nas situações extremas, pois não tinha mais ninguém a quem recorrer e hipocrisia é apenas mais uma característica humana.
Como quando, no verão de 2013, nos meus recém completados dezoito anos, me encontrei completamente perdida e sem dinheiro em uma rua desconhecida de Amsterdam, depois de ter contratado uma prostituta para ser minha guia pela cidade por uns bons quinze euros, pois um guia de verdade estava fora de meu orçamento, e ela, na verdade, me encurralar em um beco e roubar minha carteira. Nesse dia, garanto, me tornei a pessoa mais crente que já pisou na terra.
Fora isso, e algumas citações do inferno em crises de raiva, não me reservo a acreditar em nada; sejam criaturas celestes ou vontades do Universo. Embora lhe assegure que me considero insignificante demais para dizer de peito cheio o que existe e o que não. Afinal, do que sabemos, além de que somos limitados a cinco sentidos, e a um corpo mortal, e a um planeta penetrado em um sistema penetrado em uma galáxia penetrada no vasto infinito? Isso mesmo: nada.
E este é o motivo pelo qual sou cética; não sei o suficiente para saber. Apenas mais um pleonasmo socrático.
No entanto, meu ateísmo não me impediu de estar onde estou nesse momento. Em um trem com destino para a Áustria, com os olhos atentos à vista fora da janela, apesar de já passar das três da manhã.
E tudo começou nessa mesma noite, em Londres.
Eu possuo um apartamento bem afeiçoado no centro, que comprei com o ganho da publicação de meu primeiro livro há seis anos. É um lugarzinho aconchegante, visto que nunca precisei de nada espalhafatoso por morar sozinha, com vista para a Trafalgar square e todo a barulheira que turistas entusiasmados que fotografam até mesmo os pombos no gramado e o tráfego movimentado pode fazer em uma área urbanizada como aquela. Certamente não consegui dormir por este motivo nas minhas primeiras semanas de moradia, após me mudar da casa de meus pais em Manchester, mas agora, o casamento real pode passar pelas ruas e eu estarei roncando.
Na verdade, acho que me acostumei tanto que demoro para pegar no sono sem os sons da cidade. Talvez seja por isso que sou a única passageira acordada nesse trem agora.
Ou porque estou prestes a fazer uma bela loucura e meu cérebro não para de gritar comigo coisas do tipo ABORTAR! MEIA VOLTA VOLVER! agora. Mas é tarde demais.
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Vienna is Waiting | Chaennie
FanfictionJennie Kim, uma sucinta escritora renomada no auge de sua carreira, se vê naufragada em um bloqueio criativo vagaroso, sem novas ideias. Com a pressão de sua editora por um contrato abusivo, ela deve entregar uma nova história no prazo de cinco mese...