Astéria já tinha sua fuga preparada.
Sairia quando todos estivessem dormindo, pela janela. Deixaria a porta do seu quarto trancada - como sempre fazia, então a inspetora nem iria reparar - e iria descer a escada de jardinagem, que propositalmente, deixara virada para sua janela hoje a tarde, quando foi sua vez de cuidar do jardim.
Revisou as duas bolsas em que ela guardou itens que achara serem essenciais, abriu a janela, e estava prestes a descer os degraus da escada quando ficou imóvel.
Sua pulseira estava encima da cômoda, esquecida.
O mais silenciosa possível, entrou novamente em seu quarto e rapidamente colocou a pulseira em seu bolso. Ela sentiu um profundo alívio ao sentir o leve peso. Aquilo era a única coisa que a ligava com sua família.
Rezando para não ser pega, continuou com sua fuga.
Quando ela chegou ao gramado e virou-se para correr, sentiu uma mão em seu braço a puxando e se deparou com o último ser que poderia desejar encontrar. Kamille Haaver.
A garota que a odeia - sem nenhum motivo plausível, deve-se resaltar -, estava parada com pura surpresa gravada em suas feições, com seus estúpidos olhos verdes que pareciam pretos na escuridão da noite e cabelos castanhos claros presos, segurando algo na outra mão que Astéria não indentificou, olhando para ela da cabeça aos pés.
— O que você faz aqui? — Sussurrou ela.
— O que você faz aqui? — Superando seu choque, Astéria rapidamente rebateu.— O que você acha? — Ela grunhiu baixinho, tentando se livrar do aperto em seu braço.
— O que você planeja depois de fugir? Acha que vai durar lá fora, sua imbécil? — Ela sibilou, ainda em sussurros.
— E você realmente acha que eu diria meus planos a você? — Na verdade, não havia nenhum “plano” após sua fuga, mas ela não ficaria ali para ser escolhida como a próxima garota a ser maltratada. Ela viu o estado das últimas crianças que voltaram daquela casa.
— Você sabe que tudo o que Madeline falou era mentira! — Kamille afirmou com convicção, como andara repetindo toda vez que os rumores das crianças chegavam aos ouvidos dos mais novos.
Como se ela não tivesse visto os vergões em Madeline.
— Você pode se convencer e a todas as crianças disso, mas não vou cair no papinho dos reitores como todos os outros tolos!
— Deixe de ser idiota! Tá achando que isso é um dos seus livros? Os reitores só querem o melhor para nós! Assim que você sair daqui, perderá todo e qualquer privilégio que tem, como também a chance de ser escolhida para adoção! — Ela deixou de sussurrar. — Astéria, fugir é burrice! Ninguém vai querer uma garota propensa a fugir dos problemas como filha!
— Então você acredita que aquilo é um problema! — Astéria sorriu. Mas seu sorriso caiu ao pronunciar as próximas palavras. — E os reitores são pagos para nós manter inteiros! Nenhum deles no amam, só esperam a primeira oportunidade de nos empurrar para qualquer família que pareça minimamente decente!
— Você realmente vai ignorar quase tudo o que eu falei?
— Obviamente! Você fala como se eu fosse ser pega...
— Porquê você vai!
— ... O que claramente não vai acontecer.
— O que me impede de gritar e você ser pega no flagra? — Perguntou um pouco mais alto.
— Nada. — Astéria pisou pé dela, forçando a garota soltar seu braço e correu enquanto escutava um grito de dor e raiva.
Ela estava na metade de sua escalada do cercado de metal quando viu a inspetora avistar ela.
Merda, merda, merda. Deus, se algum dia eu encontar com Kamille novamente, juro que darei um tapa nessa vagabunda.
Depois do que pareceu uma eternidade correndo, a garota finalmente começou a diminuir o ritmo.
Caminhando pela pequena vegetação alta, ela continuou a andar até chegar perto da sua árvore.
Quando conseguia escapar durante a aula, ela se escondia na mata justamente porque ninguém a procuraria ali. Se ela estivesse com energia, iria até o limite da propriedade do orfanato. Nessas escapadas, acabou marcando uma árvore como sua. Afinal, era por ela que poderia pular o muro para a sua liberdade.
Ela estava cansada, mas subiria até o galho mas alto e então poderia recuperar o fôlego e beber água. Quando finalmente seu sangue esfriou, ela começou a sentir frio. Se encostou no tronco e enrolou o casado mais apertado envolta de si.
Quando estava sentindo seus olhos se fecharem contra sua vontade, escutou um barulho e qualquer resquício do sono e cansaço sumiu comparado a sensação de puro alerta que sentiu.
Levantou-se rapidamente pegando a lanterna, mais não havia nada. Ainda em alerta, guardou a lanterna e se equilibrou no galho lentamente até chegar perto do muro.
Como ela fora burra, por um instante ela relaxou! E se realmente fosse alguém? E se a pegassem?!
Estava praticamente subindo o muro quando quase escorregou ao ouvir seu nome ser chamado por uma voz desconhecida.
Eu não acredito que ainda estão me procurando! Garota burra, burra, burra!
Quando soltou a beirada do muro, sentiu todo o impacto da queda em seu pé esquerdo, isso não a impediu de correr, mas então, uma luz a cegou, e quando abriu os olhos, se viu de pé, ao lado de uma estrada larga.
Quando virou-se para trás, ficou mais confusa ao encontrar o começo de uma floresta. Onde estava o muro do qual ela havia acabado de pular?
Com o coração acelerado, ela começou a atravessar a estrada. Andou mais rápido ainda quando percebeu que uma luz estava se aproximando novamente, mas não conseguia enxergar sem seus óculos que se encontravam dentro da caixinha em sua bolsa. Só conseguiu saber o que era, quando o som de um carro passou por ela.
Quando caminhou um pouco mais, se viu olhando para o pé de uma colina um pouco alta. Sabia que a única opção era subir, já que provavelmente quem-quer-que-seja a pessoa que continuou a perseguindo ainda estaria empenhado nisso, mas se sentiu um pouco apreensiva.
Quando finalmente se embrenhou na grama alta e conseguiu chegar ao topo da colina, um formigamento chegou a seu corpo junto com um arrepio tão grande que a fez tropeçar.
A última coisa que ela pensou antes de apagar foi o quão fodida era sua sorte para sua noite acabar assim.
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Mudando o "Passado"
Fanfiction"Astéria já tinha um plano preparado. Sairia quando todos estivessem dormindo, pela janela. Deixaria a porta do seu quarto trancada - como sempre fazia, então a inspetora nem iria reparar - e iria descer a escada de jardinagem, que propositalmen...