Dedique seu coração a mim

Sonho

- Bom dia. 

Ao ouvir a voz Jean relutante abriu os olhos lentamente,  em seu campo de visão não havia mais do que o seu quarto mal decorado, roupas pelo chão e os raios de Sol forçando entrada pela janela. Após analisar o cenário como se estivesse reconhecendo o local, olhou para a dona da voz que o acordou, ela permanecia ali esperando a atenção dele com um olhar de ternura.

- Mi-Mikasa. - foi o que ele conseguiu pronunciar, ressoando quase como uma interrogação, incrédula.

- Esperava outra pessoa? Vai me dizer que bebeu ao ponto de esquecer com quem dormiu? - a moça mudou de posição para encara-lo, apoiando o cotovelo no travesseiro e descansando o rosto em sua mão.

Jean engoliu em seco e pensou claramente para não falar besteira.

- Desculpe, eu só esperei muito por isso e nesse mundo sonhos não se realizam.

Ambos coraram com tal declaração.

- Não aja como um idiota apaixonado, Jean, é constrangedor. - Mikasa disse virando o rosto para esconder seu constrangimento. 

Jean levou a mão até o queixo da garota fazendo-a encara-lo.

- Eu vou te tratar como você merece, melhor que ele, vou fazer o que ele nunca fez. - a expressão séria nos olhos castanhos confirmaram mais ainda a determinação de Jean, aquilo era uma promessa.

Mikasa não conseguiu conter suas lágrimas e as deixou escorrer pelo rosto.

- Por favor, não chore. - ele enxugou carinhosamente as lágrimas do rosto da garota com seus dedos. - Apenas me ame e dedique seu coração a mim.

Jean foi ao encontro dos lábios de Mikasa e a beijou ternamente, como se pudesse curar todas as dores daquele coração em um único ato, ele manteve aquele ritmo lento e quente até lhes faltar o fôlego.

- Eu dedicarei. - Mikasa aproveitou o momento para firmar a promessa e retornar aos carinhos de Jean.

"DRIM, DRIM, DRIM, DRIM" - Jean murmurou pragas ao reconhecer o som de seu despertador, fazendo-o retornar à realidade. Com dificuldade ele abriu os olhos e viu o caos em que seu quarto estava, garrafas de bebidas (algumas secas, outras pela metade) decoravam o chão próximo à sua cama, ele provavelmente nem utilizou um copo para dosar sua embriaguez. 

- Inconsequente. - concluiu ao analisar o cômodo, mas na verdade falava sobre si mesmo. 

Sentou na borda da cama e arrumou seus pensamentos para poder encarar o mundo fora de seu quarto.

- Ah. - riu de si mesmo ao lembrar do sonho da noite passada. - Que diabos estou fazendo, pensando tal coisa? Ainda mais agora...

Jean se perdia em seus devaneios até seu celular vibrar notificando uma mensagem, era Sasha, sua vizinha e colega de trabalho.

"Bom dia, Cara de cavalo. Estou indo na frente pois prometi ao Connie ajuda-lo nos preparativos do funeral, não se atrase ou o Capitão vai lhe chutar  ^_^ "

**

É natural e demorado o processo do luto, todos na delegacia estavam inconformados com a notícia, até mesmo o frio e sádico Capitão Levi mostrou tristeza perante o ocorrido. Nesta manhã o Departamento de Polícia do Distrito de Shiganshina prestava as homenagens fúnebres ao Sargento Eren Yeager, morto em uma operação anti-drogas, baleado por traficantes. Familiares e colegas de trabalho se reuniram para compartilhar de tal dor, Mikasa Ackerman, noiva e amiga de infância do Sargento, denunciava sua aflição no olhar vago e sombrio que mostrava.

Apesar da personalidade forte e irreverente, o Sargento Yeager tinha amizade com todos na delegacia, até mesmo Jean, seu rival, não deixou de se entristecer por sua morte, principalmente pelo sofrimento que causa à Mikasa, seu grande amor não correspondido.   

- É com grande pesar no coração que nos despedimos que um homem honrável e determinado, sua luta por justiça e paz será lembrada para sempre nesta delegacia. O Departamento de Polícia do Distrito de Shiganshina perdeu um grande policial e a cidade ganhou um herói. - Capitão Levi termina seu discurso motivando uma salva de palmas dos presentes.

Após outros colegas realizarem discursos e prestarem suas homenagens, uma comissão se dirigiu ao cemitério onde o corpo foi enterrado. Enquanto ajudava no carregamento do caixão Jean sentia-se culpado e incapaz, não poder fazer algo por Mikasa o causa uma enorme angústia.

- Kirstein, certifique que a Ackerman fique bem e em segurança. - Jean assentiu diante da ordem de seu Capitão. - Confio ela a você, mas não entenda errado. - o olhar sério e intimidador de Levi fez Jean engolir em seco e assentir mais uma vez a ordem de seu superior.

- Eu fico honrado por sua confiança, mas não seria melhor Arlet acompanha-la? - Jean sugeriu, uma vez que Armin Arlet era amigo de infância tanto de Eren quanto de Mikasa, estando juntos até os dias de hoje.

- Arlet está na mesma situação que ela, como poderiam ajudar um ao outro? - o raciocínio do Capitão fez a tentativa covarde de Jean cair por terra. - Além do mais, Arlet já está sob os cuidados de Leonhart.

-Entendo. - Jean concordou e deixou que o Capitão retornasse a delegacia.

Relutante foi até Mikasa, a única que restava em frente a cova recém coberta.

- Como você está? - disse à garota, colocando a mão sobre o ombro dela na tentativa de conforta-la.

- Oh, Jean. - ela tenta sorri para a gentileza do rapaz, ignorando a pergunta.

- Vamos, eu cuidarei para que chegue bem em casa, são ordens do Capitão, então não resista. - Jean diz estendendo a mão para Mikasa.

Ela o encara por um tempo e depois volta seu olhar para o túmulo.

- Mesmo com a forma que ele me tratava, eu não sei viver num mundo onde ele não esteja. Isso é grave, eu sou tão dependente dele. - a garota leva as mãos ao rosto e desaba em lágrimas.

Por um impulso, maior que seu senso, Jean envolve Mikasa em seus braços, abafando o som de seu choro.

- Você não precisa dele, eu cuidarei de você até que não precise mais de ninguém além de si mesma. - diz mais para si mesmo do que para ela e a envolve mais ainda no calor de seus braços.

***