Um dia (de anos atrás)

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Hoje eu estou mais velho, completo mais uma primavera, mais um ano. É uma data especial, minha mãe diria, entretanto, não a vejo como propriamente especial, é somente um dia qualquer que marca também o dia ao qual eu vim ao mundo. Resumindo: hoje é o meu aniversário, o meu natalício e alguns dirão "parabéns", outros "muitos anos de vida" e eu só pensarei "muitos anos? Parabéns? Pra quem? É um ano mais próximo da minha morte, por que deveríamos comemorar?".

Eu sou pessimista, meus caros! Por não acreditar em vida após a morte, espero conseguir viver tudo que eu quero viver e no tempo certo, sou pessimista também por acreditar que a humanidade não tem mais jeito, são tantas injustiças que se espalham e ocorrem que eu já não tenho mais fé e esperança. Mas deixemos isso de lado, afinal, como é meu aniversário e a vontade do aniversariante é mandar, então eu vou mandar a real e dizer que só quero rememorar o dia mais feliz de minha vida, pessimistas também podem sentir felicidade e alegria, dia esse que, porventura, era um dos meus aniversários passados.

Eu tinha, na época, oito anos e estava completando os meus nove. Era de uma família pobre que lutava todo dia, pequenos proletários que labutavam e vendiam sua força de serviço para poder pôr comida na mesa. De aniversário eu não esperava nada, por mais jovem que fosse, eu entendia que as coisas não estavam boas, era época de crise econômica e recessão, segundo mamãe. Talvez um bolo e um parabéns fosse a coisa mais importante que pudesse ocorrer. Talvez minha família, embora sem nada, conseguissem me dar o meu tudo naquele dia, o meu tudo convertido em bolo. Mas, como disse lá em cima, eu sou pessimista e isso vem de muito tempo, o mundo é injusto por isso não podemos esperar por nada, eu não esperava algo. Logo, portanto, não era novidade alguma saber que eu não receberia um bolo sequer.

Minha família se reuniu, antes da saída para o trabalho assalariado deles. A proposta era cantar parabéns pra você (no caso para mim), me deixar comendo o pão com margarina que carinhosamente minha mãe preparou e, por sorte do destino, me deixarem em casa, sozinho, o dia todo, já que recebi passe livre para faltar na escolinha.

Estávamos nós, eu, meu pai, minha mãe e minha irmã mais velha, eles entoavam fracamente e com palmas desarmônicas:

- PARABÉNS PRA VOCÊ, NESSA DATA QUERIDA, MUITAS FELICIDADES, MUITOS ANOS DE VIDA. VIVAAAA SEOKJIN, VIVA!

Eu fiquei agradecido, nos alimentamos e, em minutos, eu já me via sozinho. Sem ninguém para ver e sem ninguém para me impedir eu sai, fui para a rua e isso foi a melhor ideia que eu poderia ter tido.

Batia os pés no chão coberto por pedras retangulares, andava sem rumo, só queria fazer algo para sair da rotina. Acabei tomando alguns caminhos desconhecidos, me perdi e cheguei num bairro com casas de rico, aqueles casarões de cinema. Fiquei com medo, muito medo. Sendo pobre e estando com roupas desgastadas, fora o fato de ser um garoto estranho já pode servir de alvo para acusações, podem acabar me chamando de ladrão, isso me assustava.

Tentei retornar o meu caminho, seguir meus passos ao contrário, mas já não sabia mais o que fazer.

Alguns bons trinta minutos se passaram na minha tentativa de encontrar meu rumo de volta e nada, não lembrava, não sabia, não me localizava. De repente surgiu alguns meninos, aparentemente tinham idades próximas à minha, eles estavam arrumados para ir à escola e me fitaram com olhares que esbaldava curiosidade, ao todo eram seis garotos. Mesmo trêmulo e com alguns tons de temor, pedi por informação.

- Com licença, vocês sabem me dizer como eu retorno para Alfandando (bairro pobre da cidade)?

O menor deles, com um biquinho de filhote de ave respondeu sorridente:

- Desculpa, eu não sei, acho que mamãe sabe. Você pode ir com a gente e mamãe te leva de volta pra tua casa. Você tá perdido né.
Afirmei com a cabeça e senti que não havia maldade naqueles seis e que eu poderia seguir com eles.

A Special Day || Oneshot SeokjinOnde histórias criam vida. Descubra agora