Natal

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Quando Noah ouviu os sinos natalinos tocando do lado de fora da janela, ele quis gritar.

Primeiro porque o barulho era extremamente irritante, como Sabina diria se estivesse ali com ele no Canadá.

Segundo porque ele estava no Canadá.

Tentou buscar um motivo para gostar daquele país frio mais de uma vez, pelo menos vinte, ele diria. Não encontrou nenhum além do melhor amigo e da patinação no gelo, coisa que Noah também passou a destetar depois de se cortar feio e quase perder um dedo.

Restava Josh. No Canadá inteiro a única coisa de que Noah gostava era o fato de Josh morar lá.

Sua mãe tentava frequentemente lhe convencer de que o Natal em Alberta seria mais bonito que em Orange, afinal não nevava em Orange. Porém, como ela passaria a data longe de casa por mais um ano, esse no Havaí, Noah logo concluiu que isso tudo não passava de uma grande besteira. Além do mais, ele detestava neve. E frio. E o Havaí, mesmo nunca tendo estado lá uma vez sequer. Por sorte, gostava mesmo de Josh, e esperava que o Natal na casa do amigo, com um pouco de boa vontade e a ajuda do sistema de aquecimento, fosse menos frio e solitário.

Josh, por sua vez, amava o Canadá. E o frio. E a patinação no gelo. Mas detestava todas as pessoas, exceto, é claro, por Noah, de quem ele gostava bastante.

Josh também se encontrava em um estado pré-grito ao saber que, mais uma vez, passaria o Natal sem os pais e os irmãos. Reuniões de negócio, viagens com amigos, brigas com o lado paterno da família, e o resultado seria a árvore, novamente, vazia na manhã do dia 25. Como já estava acostumado a ficar sozinho, ele apenas suspirou e fingiu escutar tudo o que a mãe explicava sobre o cronograma e a data de retorno. Ele sabia que nada daquilo importava e que no fim voltariam dois dias mais cedo ou mais tarde, a depender do clima e da boa vontade de seu pai em gastar mais ou menos dinheiro com as passagens.

Josh jogou-se na cama depois de uma despedida desajeitada e aguardou até seu irmão vir dizer que também estava partindo. Desejou um feliz Natal, mesmo que ainda não fosse Natal e que não estivesse feliz, e então afundou os cabelos no travesseiro quentinho.

Dormiu por exatamente três horas, vinte e sete minutos e trinta e dois segundos antes de acordar com o barulho do telefone. Olhou no visor e sorriu, sentindo-se idiota imediatamente após a ação.

"Oi, Nô."

Fingiu estar com mais sono do que de fato estava, só para não fazer papel de bobo.

"Hey, Joshy! Te acordei?"

Pensou em como a voz de Noah era adorável, mesmo não sendo fina ou fofa. Também pensou que faria mais papel de bobo ainda se um dia admitisse isso para qualquer ser vivo ou morto.

"Não, eu já tava acordando. Pode falar."

Noah, ao escutar a mentira do outro lado da linha, cogitou falar tudo. Mais até do que o planejado. Concluiu ser ridículo.

"Que horas eu chego aí amanhã?"

"Dorme aqui hoje?"

Foi o suficiente para Noah sentir falhar a pouca estrutura restante. Josh era uma graça, ele pensava. E então concordou em ir um dia antes do combinado e passar aquela noite congelante ao lado do canadense.

Ao chegar na porta, já quase anoitecendo, Noah tocou a campainha e foi atendido por um Josh sonolento e de nariz vermelho. Perguntou se ele estava bem e se estava doente, afinal não queria ficar doente também, mas Josh afirmou ser por causa do frio e eles concordaram em não falar mais do assunto.

Sob o Visco de Natal • (One Shot Nosh)Onde histórias criam vida. Descubra agora