• Prólogo •

291 59 40
                                    

Galhos cortavam seu rosto e machucavam seus pés a cada tropeço.

Elora mal conseguia respirar. Corria há minutos, sem parar, com sua mãe sempre em sua cola.

O som de passos pesados e do trotar de cavalos se uniam às batidas desordenadas de seu coração.

Estavam se aproximando.

— Vamos, rápido! — Mérope pegou a filha pela mão e seguiu pela direita, encontrando um lugar propício para escondê-la. — Fique aqui e não saia, ouviu? — disse, enquanto tentava tomar fôlego.

A mulher tirou o colar de jade do pescoço e o colocou no da menina que, assustada, sacudiu a cabeça. — Lembra do que eu falei?

— Não tirar o colar — respondeu, entre soluços. — Nunca.

— Boa menina. — Sorriu, encorajadora. — Elora, prometa pra mim que, aconteça o que acontecer, não sairá daqui! — Ela encarou a filha, tentando parecer firme. — Jure pela Deusa!

— Pela Deusa, mamãe — respondeu a garota, aos prantos.

— Se me levarem, querida, corra para o mais longe que puder. — Com a voz embargada e o rosto molhado pelas lágrimas, Mérope afastou o cabelo do rosto da filha e beijou sua testa. — Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço, meu amor.

A mulher correu de volta para a trilha de onde viera — despistando os caçadores para que não encontrassem a jovem garota — quando, de repente, rápido demais para que reagisse, uma flecha atravessou seu abdômen.

Elora cobriu a boca para não gritar ao ver sua mãe ser empalada como um cervo, atenta aos passos pesados que se aproximavam.

— Onde estão teus poderes, bruxa? — A palavra foi dita como num cuspe. — Não é tão boa quanto pensava, não é? — Um riso de puro escárnio saiu de sua boca.

O homem, com uma capa azul-meia-noite, levantou-a do chão pelos cabelos, ainda segurando a besta responsável pela flechada certeira. Com o movimento, a barra direita de sua calça saiu do lugar, expondo uma marca em formato de cobra.

— Vamos, defenda-se! — gritou, aproximando o rosto do dela.

Mérope não conseguia reagir. Seu abdômen queimava absurdamente enquanto o veneno presente na flecha corroía seus órgãos.

— Veremos se continua calada enquanto queima como no fogo do inferno... — rosnou, ardiloso. Os outros, ao seu redor, riram, satisfeitos.

Foi a última vez que vira sua mãe.

Luar de Sangue Azul - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora