Capítulo Único

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Win Metawin, 31 anos, 1,85 de altura, cabelos pretos, e uma pele que parecia macia aos olhos de quem o via. O sorriso contagiante estava lá vez ou outra quando era necessário, mas a expressão séria parecia combinar muito mais com o modelo profissional que ele era. Metawin era esbelto, principalmente quando estava desfilando, ou quando fazia qualquer outra coisa que fosse considerada normal. Talvez "homem perfeito", como era chamado pelos jornais, revistas e televisões, fosse o melhor apelido para Metawin, porque, de fato, ele era perfeito em tudo. Em falar, andar, desfilar. E, como se não bastasse, Metawin era a própria gentileza encarnada.

Ele era um homem que parecia ter a vida perfeita. Sua carreia de modelo havia começado na adolescência, e há muitos anos, ele se tornou aos poucos um dos caras mais bonitos e ricos de toda a Tailândia e do mundo. O único problema, era que Metawin — como a maioria dos artistas — não estava satisfeito com ele e nem com a sua própria vida. Sempre que chegava ao seu camarim junto com um bando de modelos, ou até mesmo na própria casa, quando finalmente olhava-se no espelho sem todas aquelas roupas de última linha e nenhuma maquiagem no rosto, se fazia uma pergunta:

— Quem eu sou? — Questionava, olhando-se nos próprios olhos. — Quem é você, Metawin? Um modelo internacional, um homem bonito e rico, ou alguém que está rodeado de pessoas e ao mesmo tempo tão sozinho?

Havia aqueles momentos de solidão. Metawin era famoso, e não podia confiar em muita gente. No mundo, existia a inveja e a maldade, — não era à toa que Metawin andava com seguranças por perto — por tanto, nem ao menos passava pela sua cabeça o fato de fazer alguma amizade. Tinha sua família e os colegas de trabalho e era aquilo. A fama não parecia fazer-lhe feliz como fazia no começo.

Certa noite, tão pensativo, tão solitário, tão entediado, Metawin estava deitado no sofá de couro branco, enquanto quase enlouquecia com o silêncio que havia em sua casa grande. A TV estava ligada em volume baixo, passando uma novela qualquer, mas os olhos do modelo estavam no teto, e os ouvidos mudos, a cabeça envolvendo mil pensamentos. O homem finalmente tinha tirado férias do emprego cansativo, poderia sair da dieta rigorosa por um ano inteirinho, fazer o que tivesse vontade sem seguranças nas suas costas, e, caramba, a coisa que Metawin mais queria fazer na sua vida... o que era, o que era, o que era... estudar. Entrar em uma universidade, fazer amigos, viver a adrenalina de colocar o próprio nome em uma prova, ter algum paquerinha, e, principalmente, comer alguma porcaria na cantina da faculdade. Caralho, Metawin queria muito mesmo aquela vida. Queria se sentir florescer, desabrochar-se, queria sentir como se fosse um adolescente na puberdade novamente. E por que não? Win Metawin era dono do mundo. Do seu mundo, pelo menos.

— Você não sabe a honra que é recebê-lo aqui, Metawin, devo dizer que estou surpreso.

Metawin riu sem graça, sentando-se frente à mesa do diretor da universidade a qual havia escolhido estudar. Ele não perdeu tempo, porque não queria e não podia. Teve a ideia e a colocou em prática, simplesmente. Aproveitou que era o começo do ano e as matrículas estavam começando a serem feitas, ficando em dúvida no curso, claro, mas Metawin era um cara prático, e logo estava com um sorriso animado. Piscou e estava ali, conversando com um coroa gentil demais.

— Acredite, é uma surpresa pra mim também.

— Se não for indelicado da minha parte, o que o fez deixar a vida... agitada, posso dizer assim, de lado, e acabar caindo aqui? Não é todo dia que deixam uma vida boa pra estudar.

— Eu sei bem disso. — Disse, o tom calmo, o sorriso gentil sempre ali. — Minha vontade é ter uma formação acadêmica, uma nova rotina, quem sabe até fazer um amigo. Acredite se quiser, a fama vem, mas com ela vem a solidão também.

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