todos os dias, kim hyunjin parava para olhar aquele porta-retrato que ficava em sua cômoda: não importava quantos passos teria que dar para poder alcançá-lo, estava sempre o contemplando. e isso tudo porque era uma foto dela com jeon heejin, sua amiga de infância.
ela ainda tinha a cartinha de amor que escrevera exclusivamente para heejin, mantinha-a na gaveta onde guardava suas roupas mais formais, em caso de usá-las para fazer com que jeon tomasse posse da dedicatória. e era justamente por causa do aromatizador barato que deixava aquelas roupas com cheiro de cipreste e limão, uma vez que a carta não podia feder a mofo.
abriu a gaveta, como era de praxe, para ver se sua carta, escrita quando ela tinha dez anos, estava bem: estava sim, e tão cheirosa quanto os vestidos dobrados tão simetricamente que dava até orgulho. depois, seus olhos pousaram na garota de casaco rosa-choque e protetores de ouvido felpudos que segurava uma grande bola de neve na destra e cujos dedos da canhota contornavam a silhueta do pescoço de hyunjin na foto onde ambas mantinham grandes sorrisos.
a mãe de hyunjin bateu na porta do quarto.
− entra, mãe. ― disse a de fios negros.
− filha, já que você está pronta, vem tomar café. ― proclamou a mãe.
− está bem. ― kim disse.
[...]
hyunjin fizera tudo o que fazia antes de chegar na estação de trem: brincava com um gatinho amarelo de rua, que apelidava carinhosamente de gaeul; falava oi para o senhorzinho da loja de conveniência, que varria a entrada todos os dias na hora em que ela passava; via uma mesma garotinha com sua mãe atravessar a rua e dava exatamente dez passos para atravessar a rua até chegar à estação.
então, ao sentar-se num dos bancos do trem, deitava o caderno velho sobre o colo e se punha a deslizar a ponta da caneta que jogava o fluido reluzente de glitter no papel de forma que seguisse a forma das letrinhas cursivas. o cheiro de bala de banana artificial fazia a cartinha melhor, mesmo que ela fosse uma das muitas que ela quisesse escrever. não sabia o porquê, mas 336 palavras − sua segunda cartinha tinha 348 − eram sempre o que conseguia escrever; além disso, assinava sempre com “aquela cujos olhos de gato admiram sua inefável sinestesia”.
fazia isso todo santo dia.
heejin entrava sozinha uma estação depois e sentava-se no banco à sua frente e mexia no celular. um pingente rosa-choque na capinha fazia-a notar o quanto jeon apreciava coelhos; mas então wong kahei, uma estudante estrangeira que precisaria de ajuda para se adaptar à escola apareceu quando elas tinham 12 anos para roubar heejin dela. agora, aos quatorze, tinha como amiga apenas jo haseul - cuja irmãzinha de 9 anos, yeojin, entendia muito mais sobre romance do que qualquer adulto com que cruzara na vida - e que tinha acabado de entrar no trem. guardou a carta na mochila e sorriu brevemente para jo.
teve até uma ideia para reaproximar-se de heejin.
[...]
− conseguiu pôr a carta no armário dela? ― haseul indagou.
− fala baixo, senão alguém vai nos ouvir!! ― disse hyunjin. ― mas sim, eu consegui.
− e o que estava escrito mesmo, hyunjinie? ― jo interpelou.
− olha ela ali, disfarça, haseul-ah, disfarça!! ― hyunjin disse.
heejin passou com vivi. sem olhar para jo e kim, andou até o armário e tirou dele a carta - marcada como anônima - de hyunjin, denotando interesse. ela abriu enquanto enrubescia e era questionada por kahei; corou mais e secretamente sabia quem tinha escrito.
[...]
alguns dias depois, hyunjin estava jogando no celular, sentada no trem praticamente vazio. heejin entrou no trem e falou algo para kahei, que pareceu aprovar e sentou-se alguns bancos mais longe de hyunjin e haseul.
heejin sentou-se ao lado de hyunjin e colocou a mão no ombro dela.
− esse joguinho é legal? ― jeon indagou.
− si-sim! quer jogar? ― disse kim.
− pode ser... seu cabelo está cheiroso! lavou hoje? ― jeon perguntou, enquanto kim lhe passava o celular.
− sim!
haseul, que estava junto de hyunjin, foi falar com kahei e elas se afastaram para deixá-las a sós. elas conversaram bastante, de um modo nostálgico.
[...]
um mês.
já fazia um mês desde que hyunjin e heejin voltaram a conversar. o dia no parque estava bonito e era primavera. o buquê de flores era rosa; heejin parecia gostar da cor. a caixa de bombons de morango parecia provavelmente agradá-la. quais eram as chances de dar errado?
− hyunjinnie! ― heejin exclamou.
− eu tenho uma coisinha pra você. ― hyunjin mostrou o buquê e os bombons.
− aah meu deus, que lindo! ― jeon sorriu. ― eu também tenho uma coisa para você.
− o quê- ― o beijo de heejin nos lábios de hyunjin findara a frase.
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THE GIRL AT THE TRAIN, 2jin
Fanfictionapós sair da escola primária, hyunjin se afastou de sua melhor amiga. mesmo sabendo que era "errado", gostava demais dela, não importava se fora trocada durante o ginasial. na tentativa de finalmente entregar a carta escrita quatro anos antes, hyunj...