após sair da escola primária, hyunjin se afastou de sua melhor amiga. mesmo sabendo que era "errado", gostava demais dela, não importava se fora trocada durante o ginasial. na tentativa de finalmente entregar a carta escrita quatro anos antes, hyunj...
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todos os dias, kim hyunjin parava para olhar aquele porta-retrato que ficava em sua cômoda: não importava quantos passos teria que dar para poder alcançá-lo, estava sempre o contemplando. e isso tudo porque era uma foto dela com jeon heejin, sua amiga de infância.
ela ainda tinha a cartinha de amor que escrevera exclusivamente para heejin, mantinha-a na gaveta onde guardava suas roupas mais formais, em caso de usá-las para fazer com que jeon tomasse posse da dedicatória. e era justamente por causa do aromatizador barato que deixava aquelas roupas com cheiro de cipreste e limão, uma vez que a carta não podia feder a mofo.
abriu a gaveta, como era de praxe, para ver se sua carta, escrita quando ela tinha dez anos, estava bem: estava sim, e tão cheirosa quanto os vestidos dobrados tão simetricamente que dava até orgulho. depois, seus olhos pousaram na garota de casaco rosa-choque e protetores de ouvido felpudos que segurava uma grande bola de neve na destra e cujos dedos da canhota contornavam a silhueta do pescoço de hyunjin na foto onde ambas mantinham grandes sorrisos.
a mãe de hyunjin bateu na porta do quarto.
− entra, mãe. ― disse a de fios negros.
− filha, já que você está pronta, vem tomar café. ― proclamou a mãe.
− está bem. ― kim disse.
[...]
hyunjin fizera tudo o que fazia antes de chegar na estação de trem: brincava com um gatinho amarelo de rua, que apelidava carinhosamente de gaeul; falava oi para o senhorzinho da loja de conveniência, que varria a entrada todos os dias na hora em que ela passava; via uma mesma garotinha com sua mãe atravessar a rua e dava exatamente dez passos para atravessar a rua até chegar à estação.
então, ao sentar-se num dos bancos do trem, deitava o caderno velho sobre o colo e se punha a deslizar a ponta da caneta que jogava o fluido reluzente de glitter no papel de forma que seguisse a forma das letrinhas cursivas. o cheiro de bala de banana artificial fazia a cartinha melhor, mesmo que ela fosse uma das muitas que ela quisesse escrever. não sabia o porquê, mas 336 palavras − sua segunda cartinha tinha 348 − eram sempre o que conseguia escrever; além disso, assinava sempre com “aquela cujos olhos de gato admiram sua inefável sinestesia”.
fazia isso todo santo dia.
heejin entrava sozinha uma estação depois e sentava-se no banco à sua frente e mexia no celular. um pingente rosa-choque na capinha fazia-a notar o quanto jeon apreciava coelhos; mas então wong kahei, uma estudante estrangeira que precisaria de ajuda para se adaptar à escola apareceu quando elas tinham 12 anos para roubar heejin dela. agora, aos quatorze, tinha como amiga apenas jo haseul - cuja irmãzinha de 9 anos, yeojin, entendia muito mais sobre romance do que qualquer adulto com que cruzara na vida - e que tinha acabado de entrar no trem. guardou a carta na mochila e sorriu brevemente para jo.
teve até uma ideia para reaproximar-se de heejin.
[...]
− conseguiu pôr a carta no armário dela? ― haseul indagou.
− fala baixo, senão alguém vai nos ouvir!! ― disse hyunjin. ― mas sim, eu consegui.
− e o que estava escrito mesmo, hyunjinie? ― jo interpelou.
− olha ela ali, disfarça, haseul-ah, disfarça!! ― hyunjin disse.
heejin passou com vivi. sem olhar para jo e kim, andou até o armário e tirou dele a carta - marcada como anônima - de hyunjin, denotando interesse. ela abriu enquanto enrubescia e era questionada por kahei; corou mais e secretamente sabia quem tinha escrito.
[...]
alguns dias depois, hyunjin estava jogando no celular, sentada no trem praticamente vazio. heejin entrou no trem e falou algo para kahei, que pareceu aprovar e sentou-se alguns bancos mais longe de hyunjin e haseul.
heejin sentou-se ao lado de hyunjin e colocou a mão no ombro dela.
− esse joguinho é legal? ― jeon indagou.
− si-sim! quer jogar? ― disse kim.
− pode ser... seu cabelo está cheiroso! lavou hoje? ― jeon perguntou, enquanto kim lhe passava o celular.
− sim!
haseul, que estava junto de hyunjin, foi falar com kahei e elas se afastaram para deixá-las a sós. elas conversaram bastante, de um modo nostálgico.
[...]
um mês.
já fazia um mês desde que hyunjin e heejin voltaram a conversar. o dia no parque estava bonito e era primavera. o buquê de flores era rosa; heejin parecia gostar da cor. a caixa de bombons de morango parecia provavelmente agradá-la. quais eram as chances de dar errado?
− hyunjinnie! ― heejin exclamou.
− eu tenho uma coisinha pra você. ― hyunjin mostrou o buquê e os bombons.
− aah meu deus, que lindo! ― jeon sorriu. ― eu também tenho uma coisa para você.
− o quê- ― o beijo de heejin nos lábios de hyunjin findara a frase.