ÚNICO

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Amélia sentia os pés doerem enquanto corria e corria mais, o vento açoitando os cabelos castanhos como se tentassem jogá-la para trás. O caminho entre seu frágil corpo e o precipício se estreitava cada vez mais e tudo o que conseguia fazer era impulsionar ainda mais os braços e pernas para a frente.

Para o fim.

Os cascalhos da trilha afundando sobre a pele e deixando um rastro de sangue por onde passava. Amélia permitiu que o corpo freasse a poucos centímetros da beira tangível, do pequeno espaço que a mantinha viva. O peito subindo e descendo com velocidade, os cabelos embolados nas costas e o uivo dos ventos nos ouvidos.

A trilha de galhos quebrados e sangue que deixou para trás era visível ainda pela mata adentro.

O coração pulsava enquanto o celular vibrava no bolso na calça jeans. O som incessante a fazendo cogitar... pensar naquilo que estava fazendo.

As mãos de Amélia tatearam o bolso traseiro em busca do aparelho, um nome piscava na tela com urgência. Steven. Amélia encarou o nome e a foto do melhor amigo que ainda piscava e ainda fazia o aparelho tremer.

Uma lágrima molhou a tela fazendo a sensibilidade do touch identificar o toque e atender a ligação.

Mesmo sem por o aparelho nos ouvidos ela pode ouvir o grito.

Amélia! Pelo amor de tudo... não faça nada de que vá se arrepender — os olhos desviaram do nome que agora apenas brilhava para encarar a paisagem de fim de tarde.

— Não vou me arrepender — Amélia encarou o precipício que parecia gritar o seu nome.

O desfiladeiro com pedra pontiagudos reverberava a palavra "arrepender" como o eco de um coral infeliz. As nuvens no horizonte começavam a serem manchadas pelo azul escuro da noite que chegava.

Elie... — Steven suplicou.

Com o celular colado ao ouvido Amélia suspirou. Steven respirou aliviado, por saber que ainda estava sendo ouvido. O rapaz sentiu uma pontada de esperança o preencher quando a voz vazia da amiga soou pelos alto falantes.

— Ele sabia... ele sempre soube... — Amélia se agarrou ao cascalho debaixo dos pés com os dedos, cada centímetro doendo pelos cortes da trilha.

Ele é um babaca, por que você dá ouvidos àquele merda? — Steven gritou, exaltado.

Amélia sentiu o peito doer, como se todo o ar estivesse sendo sugado de si. A boca aberta, arfando por qualquer migalha que conseguisse absorver enquanto os olhos começavam a embaçar pelas lágrimas.

Volta pra casa — Steven pediu, a voz suplicante enquanto caçava as chaves do próprio carro no monte de chaves enfiadas na lama pela garota. — Eu... — Steven se deteve.

Honey, go homeOnde histórias criam vida. Descubra agora