Carta 01.

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/ M i c h a e l /

-Ela era tão feliz... não sei como é que não reparei. – A mulher de cabelo castanho lamenta-se enquanto vê as fotos da filha quando era mais nova. - Ela dizia-me todas as noites que estava melhor do que o dia anterior. Freya foi sempre assim... dizer que estava bem para não magoar os outros, ou até mesmo aborrecer. Ela tinha um coração tão grande. - A senhora diz e é impossível não concordar com ela. Freya tinha um coração tão puro e grande. 

            Eu apenas observo a minha menina quando era mais nova e o meu coração dói devido ao facto de ser a mãe a mostrar-me todas as fotos da infância de Freya e não a mesma. O seu cabelo loiro já longo como ela sempre teve. As suas sardas nas suas bochechas que eu comparava com pequenos grãos de areia na sua pele bonita e quando o tempo estava caloroso, se notavam mais. Os seus olhos bastante claros. O seu sorriso parece tão verdadeiro. Ela parecia tão feliz... bastante. A felicidade de uma criança e a sua inocência são as coisas mais puras e que mais são bonitas. Principalmente, quando essa criança se tornou na pessoa que tu amas.   

-Eu posso ir ao quarto dela? – Eu ganho coragem para perguntar e encaro a mulher que apenas acena positivamente depois de uma pequena hesitação e limpa as lágrimas que escorregam dos seus olhos.

            Os meus pés sobem as escadas e procuro a porta do quarto da Freya. A minha mão encontra a maçaneta dourada da porta branca e quando empurro a porta, um cheiro familiar é preenchido e as lágrimas querem cair.

-Freya... -eu suspiro baixo e eu quero deitar na mesma cama que ela dormia. Eu quero deitar na cama que ela passava as noites a chorar por mim. Eu queria fazê-lo, mas com ela ao meu lado e compensar o tempo perdido. O problema é esse. Eu vou ficar sempre pelo pensamento e nunca vou conseguir faze-lo. O problema é que não foi só tempo perdido, como uma vida de felicidade foi perdida. Quão justo isso é?

            Os meus olhos encontram o urso que lhe dei e eu toco-o e eu quero abraça-lo, tal como ela fez na primeira vez que o viu, mas não posso, porque ela foi a última pessoa a abraçar a prenda e quero que fique assim. Quero que fique sempre com o seu cheiro. A visão do primeiro abraço dela com o urso recapitula-se na minha cabeça. O seu sorriso. Os olhos fechados e as rugas criadas debaixo dos seus olhos. O seu cabelo a cair para o seu belo rosto. A força que ela o abraçou. "Vou cuidar dele, como tu cuidas de mim." ela disse e isso faz-me questionar se ela sempre o tratou como ela me tratou, pois eu nunca soube cuidar dela como ela merecia. Eu conheço a rapariga loira. Ela, de certeza, cuidou dele com todo o seu coração.

            Eu abro o armário e vejo a sua roupa e as minhas mãos passam por uma camisola e eu imagino-a com ela vestida. Talvez pareça um pensamento pervertido, mas apenas quero relembrar a rapariga que amava. Relembro a rapariga que amava com essa mesma camisola e relembro-me do seu cabelo loiro a escorregar em cima dela. A minha mente relembra-se do cheiro do seu cabelo e como deixei-o escapar sempre que o passava pelos seus dedos. Eu relembro-me das vezes que a tive nos meus braços e eu conseguia sentir o cheiro do seu cabelo loiro e como eu gostava. Recordo-me da rapariga que mais amei a adormecer nos meus braços enquanto mexia no seu cabelo com cuidado e como no início ela pedia-me desculpa por ele estar despenteado.      

            Outra coisa que nunca voltará a acontecer. 

            Eu encontro uma caixa branca atrás das camisolas e eu não consigo deixar de mexer nela. Tiro-a e eu tenho medo do que poderei encontrar lá dentro. Sento-me na cadeira da sua secretária e eu sou chamado a atenção por umas fotografias e eu deixo a caixa nas minhas pernas.

            Pego nas fotografias e algumas eu vejo a minha imagem. Eu passo os meus dedos pela face de papel dela e as lágrimas sem piedade são deixadas percorrer a minha face deixando um rasto molhado.

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