Um Dia das Bruxas na floresta

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Era uma vez um Dia das Bruxas na floresta.

Os conquistadores da Spania e Francia, Dom Juan e Dona Francesca, aliados à bruxa Nélsia, da Germania, capturaram uma nativa qualquer no Nuevo Mundo. A índia caiu atordoada em uma das pesadas armadilhas de ferro, posicionadas para aprisionar pássaros jacurutus, japus, urutaus, jaçanãs...

Imediatamente, os invasores viram ali uma oportunidade que deveria ser aproveitada. Acorrentaram a nativa a grilhões, e a mantiveram ajoelhada na terra, indefesa, simplória, totalmente a mercê da vontade deles, que era uma só. "Fortuna ou morte!", eles gritaram.

No esconderijo subterrâneo Sexto Palmo, na terra das sombras, uma zona-fantasma fora de qualquer mapa, os sócios aplicaram-lhe os soros e xaropes recentemente desenvolvidos pela bruxa. O soro extrator da verdade, o suco regressor de consciência e o xarope amplificador de instinto.

Com as aplicações das drogas, os três exploradores europeus visavam invadir e recuar a mente da indígena até gerações passadas, para que ela enfim recuperasse e contasse a localização de Eldorado. Setenta cidades brilhantes, supostamente escondidas na extensa e misteriosa floresta-continente do grande rio-horizonte, o rio Paranatinga.

O spaniol Dom Juan, um brutamontes careca e imberbe, consultou os mapas da América recentemente delineados. Batendo com um pau-brasil no topo do domo da grade da gaiola, ele fez uma série de perguntas para a cativa.

– Está em qual parte da Amazônia? No cimo da serra Zipaquirá? Junto do lago Guatavita? Perto das Minas de Sal de Bogotá? Em Llanganates? No Vale do Orinoco? Junto do Lago Maracaibo? No Interlúdio Meta-Guaviare? Onde? Onde? Esto es mui importante!

E ele bateu com o pau de madeira, vezes sem conta, provocando sons metálicos muito fortes. Ensurdecedores para alguém que estava acostumada apenas aos sons naturais da floresta.

– No sopé da serra Pacaraima? No vale do Rio Branco? Na ilha de Maracá? No Uraricoera? Junto ao logo Janauari? Na região do lago Parime? Ao menos sabe do que estoy hablando? Oro, oro! Plata, plata! Carajo!

Destemida, a nativa aprisionada fez que não, todas as vezes.

– Vocês são testemunhas! Eu estou tentando dialogar, mas "isto" não quer conversa. Assim fica difícil!

Em meio àquele delírio equatorial, ele bateu com o pau-brasil mais uma e outra vez, a fim de arrancar informações concretas sobre o Eldorado. Para a nativa, aquilo era uma tortura sem igual.

– Nicht! Se não dá certo com o pau, bata com o Hakenbüchse – sugeriu a bruxa germânica.

– Ne pas! Use o arquebuse – corrigiu a francesia, uma loira de nariz empinado.

– O quê? Ah, o arcabuz! No, no, no, no, esta espingarda guardarei para outra ocasião!

Deva Sopra RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora