kiss in the kitchen like it's a dance floor

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"Já tá pronta?"

Precisamos sair em cinco minutos, mas ainda não terminei minha maquiagem. Não sou exatamente uma profissional, então precisei fazer o delineado umas quatro vezes pra deixar o puxadinho ao menos um pouco simétrico. Afinal, vai ser a primeira vez em dez meses que encontro meus amigos. Esse maldito vírus realmente entrou nas nossas vidas pra ferrar com o ano. Mas é o ditado: vacina na mão, calcinha no chão.

Brincadeira. (...)

"Quase! Viu meus tênis por aí?"

Manuel estava pronto há quinze minutos. Em minha defesa, sou eu quem vai dirigir por uma hora e meia até a casa da nossa amiga, Victória, então perdi algum tempo verificando a calibragem do pneu do carro, óleo, água, limpei os para-brisas e ainda precisava abastecer.

"Tu deixou aqui na entrada."

Ótimo. Chaves? Peguei. Água, balinha de café pra glicemia, presente pro Guilherme – é aniversário dele amanhã -, bombinha de asma do Manuel e remédio pra minha ansiedade? Check. Dar beijinho no pet antes de sair? Check. Coloquei os tênis, girei as chaves no dedo indicador e disse:

"Bora pra festa."

O caminho é longo, sim, mas o Manuel torna tudo mais divertido. Fomos cantando nossas músicas favoritas e fofocando sobre os amorzinhos. Ele estava completamente viciado em 'WAP', da Cardi B, então ouvimos até cansar a parte que diz:

Now from the top, make it drop

That's some wet ass pussy

Now get a bucket and a mop

That's some wet ass pussy

I'm talking WAP, WAP, WAP

That's some wet ass pussy

Macaroni in a pot

That's some wet ass pussy, uh

Desde que a vacina chegou, foi uma loucura. Por sorte, todos conseguimos nos imunizar contra essa peste. O comércio voltou a funcionar, escolas abriram novamente, praias encheram mais uma vez. Não que isso tudo não estivesse acontecendo enquanto a pandemia rolava, mas agora é oficialmente seguro. Contra o covid-19, pelo menos. Manuel voltou a encontrar seu namorado e nunca o vi tão feliz. Sinto que ele foi a melhor pessoa que passou pela minha vida. Enquanto estávamos no cursinho pra faculdade federal, os tempos de tortura se aliviavam com nossos cafés e conversas descontraídas. Sempre nos ajudávamos e passávamos raiva com questões juntos. Agora, na faculdade, sinto falta de tê-lo por perto o tempo todo, mas sei que ambos estamos trilhando destinos brilhantes.

"Ela ainda mora naquela casa bege?" Perguntei quando chegamos na rua da Vic.

"Aham." Ele confirmou. "Ah, e ela disse que pode estacionar na vaga em frente a casa."

Fiz uma baliza tão linda que precisei fotografar. Descemos do carro e avisamos nossa amiga que estávamos esperando na porta. As luzes, coloridas, brilhavam com um som mediano tocando no quintal. Guilherme claramente escolheu a playlist. Só de pensar que encontraria todos novamente já sentia a ansiedade apertar meu peito. Talvez precise de um comprimido mais tarde.

"E aí, paixões da minha vida!" Vic nos recepcionou com o sorriso mais lindo. Ela sempre teve uma simpatia fora desse mundo. "Podem entrar. Estamos no quintal, preparando os drinks."

Ah, merda.

"E você não me olhe assim, Aurora. Os dois vão dormir aqui em casa, então pode beber a vontade."

Levantei o dedo para retrucar, mas ela fez 'shhh' em resposta. O sorriso do Manuel colaborou com meu aceno, concordando que passaríamos a noite na casa. Era uma sexta-feira, a final.

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