One - O fundo do mar

0 0 0
                                    

  Hoje era dia de festa no alto mar. Estavam todos alegres. Hoje meu pai completa quinze décadas e meia, e todos estavam eufóricos já que Poseidon sempre abria os portões de Atlanta para quem quisessem nos visitar. Era extremamente raro nosso contato com qualquer outro ser vivo, a não ser em nossos aniversários.
 
—Nara! Você não vai para o salão real?— indaga minha irmã, ao adentrar meu quarto.

—Não estou afim, Lena. Você que é a queridinha do papai, porque não está lá?

—Deixe de ser boba. Papai não faz diferença entre nós. Aliás, o próprio estava perguntando de seu paradeiro.

—Não comparecerei. Vou aproveitar os portões abertos e realizar meu grande sonho.

—Nara, você sabe que vai se encrencar.

—Não vou, não. A não ser que alguém conte.— a olhei sugestiva levantado ambas as sombrancelhas frenéticamente.

—Não contarei nada, se é isso que está pensando. Mas como sua irmã mais velha, tenho o dever de lhe alertar que é perigoso. Sabe como invejam o papai portões á fora. Há muitas pessoas maldosas por aí, Nara.

—Ninguém saberá quem eu sou enquanto eu estiver fora, Lena. Não é como se perguntassem quem são nossos pais, sem mais nem menos.

—Sua teimosia me estressa Nara. Toma cuidado, por favor. Não volte tarde. E antes de ir, vá desejar os parabéns para o papai.

—Blá, blá, blá... Eu já sei, Lena.

   Direciona um olhar repreensivo e balança a cabeça em negação, ao passo que se retirava de meu quarto. Lena era a terceira dentre meus irmãos mais velhos. Porém age como se fosse a primogênita.
 
  Termino a trança lateral em meu cabelo e nado em direção ao salão. Onde encontro meus pais em seus respectivos tronos.

—Parabens papai!

  Com o meu jeito eufórico, nado rapidamente até o mais velho e o abraço, ao passo que deixava um selar em sua bochecha.

—Obrigado Nana. Onde estava?

  Papai sempre me chamou de Nana, minha mãe tentava corrigí-lo, mas ele diz que Nana é mais bonitinho e que combinava comigo.

—Estava arrumando minhas madeixas. Não é sempre que recebemos vistas papai, tenho que estar apresentável.

—Você já é adorável sem esforço algum, querida. — Ângela, minha mãe, acaricia meu cabelo sem bagunça-lo.

—Obrigado mãe.— beijo sua bochecha.

  Me afasto de ambos, pronta para seguir meu caminho portão a fora, mas parei ao ouvir a pergunta de meu pai, tentando formular uma reposta o mais rápido possível para que ele acreditasse na minha mentira.

—Onde pretende ir Nana? Achei que iria ficar para a festa.

—Oh. E eu vou papai. Mas primeiro... vou receber e dar boas vindas para os que já chegaram.— forcei um sorriso.

—Não demore, filha.— foi a vez de minha mãe.

  Assenti e continuei a nadar até o portão, ao chegar no mesmo eu respirei fundo, tomando a coragem que já estava querendo se esvair.
  E se....
  Eram tantos "e se" que rodavam minha mente, que eu já estava quase desistindo. Mas nunca se sabe quando eu iria ter essa oportunidade novamente. E com esse pensamento, aproveitei o fluxo de pessoas passando e me enfiei no meio, nadando o mais rápido que podia e, sumindo da visão dos guardas. A primeira etapa do plano estava concluída. Sair despercebida.

  Depois de tanto nadar, subi para a superfície, e sorri admirada, nunca tive a oportunidade de ver o céu, até agora.
Ao ver dois golfinhos, incrívelmente lindos, um em um tom de cinza azulado, e outro preto com um círculo branco no seu olho esquerdo. Ambos nadavam ao meu redor em sintonia, como se quisessem que eu soubessem que amigavam com a minha pessoa.
  Alisei um deles, por sermos todos seres aquáticos, tínhamos a abilidade nos entendemos.

Human For a Day |•| Mermaid Onde histórias criam vida. Descubra agora