OBLITERO

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     Já impaciente, extirpa os fones dos ouvidos: julgados culpados e causadores da falta de inspiração e os joga à mesa de trabalho, sobre o teclado do notebook

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     Já impaciente, extirpa os fones dos ouvidos: julgados culpados e causadores da falta de inspiração e os joga à mesa de trabalho, sobre o teclado do notebook. Paul Anka, ultimamente, não o tem ajudado a alcançar o alento esperado para a criação de uma crônica. Nada para postar e garantir seu emprego e o pão de cada dia. 

     Christopher suspira irritado, com pernas inquietas debaixo da mesa. O papel digital na tela do computador à sua frente completamente em branco. Sem uma única palavra compondo o espaço vazio. 

     Ele passa a visão por todo o escritório, contemplando e ponderando cada móvel presente e fixado em harmonia. Tudo de acordo com o bom visual e consequente bom gosto.

     Na verdade, Christopher tem conhecimento de que se não encontrar nada melhor para fazer, ou melhor, escrever, tudo o que conseguiu com muito esforço pode se esvair por entre seus dedos com uma facilidade oposta à qual precisou para chegar onde está. 

    Se sente sufocado. 

     Levanta num único movimento, apanha o casaco e sai da empresa sem dar explicações ou satisfações. Até mesmo dá de ombros à recepcionista do térreo que ainda se levanta da cadeira e o chama, perguntando onde está indo81em horário de expediente, com toda certeza para dizer ao seu chefe, Carlito Santiago, caso pergunte pelo sumiço de seu funcionário favorito. Christopher finge que nada ouve e nada vê. Continua a caminhar. Sempre em frente e de cabeça erguida, conquanto a diminuta aura o envolva. 

     Atravessando a rua, na esquina: Cafeteria com sabor e cheiro de aconchego e infância. 

     Depois do primeiro gole de café cremoso – quente e doce – descendo a garganta, o coração amargurado se faz ausente por certo tempo. Christopher sempre senta no mesmo lugar: costumeira última mesa encostada na grande janela de vidro; cadeira acolchoada vermelha e a iluminação natural do sol. 

     Passados dez minutos de descanso, cabeça agora fria, pede desculpa mentalmente a Paul Anka, uma vez que o único culpado de ter deixado sua vida chegar a este ponto, é ele próprio. 

     Prestes a fazer uma profunda reflexão silenciosa sobre como seus dias vêm sendo tão monótonos, sem nenhuma nova inspiração para escrever, o sino em cima da porta de entrada/saída do local tilinta. Alerta de chegada de três desconhecidos, sobretudo clientes, muito bem aconchegados em suas roupas de frio. Dois homens e uma mulher. 

     Para infelicidade de Christopher, que só queria um lugar sossegado para lamentar-se com a própria companhia, escolta com os olhos murchos e enfadados os três amigos barulhentos que logo escolhem uma mesa tão perto dele. As vozes altas contrastam com o tom calmo da cafeteria e coma paciência de Christopher, que ironiza "Que ótimo!". 

     Ele trata de apressar as goladas, que geralmente são apreciadas gota por gota, todavia, escuta o trio conversar sobre uma possível viagem a um Hostel no meio da selva82chamado "Bem-te-vi". A única mulher do trio indaga os pormenores do lugar e por qual motivo iriam a uma localidade como essa, ao que o amigo – musculoso, careca e orgulhosamente dito agricultor – responde que quer vivenciar algo mais natural, como eles dizem, longe de toda a negatividade. 

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