Capítulo único

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nota da autora: entom, tentei imitar um pouco a escrita dos livros! e quero lembrar que a época tinha seus preconceitos e o que é normal agora, antes não era. o POV é de john watson, assim como nos contos. espero que gostem! <3



O relato deste caso não será publicado e deve ser mantido em sigilo sob posse única e exclusiva de Dr. John H. Watson, o qual vos escreve, e Sr. Sherlock Holmes, até o dia de nossas mortes. Sua natureza pode ser de grande incômodo àqueles que nos lideram e também a qualquer outra pessoa que preze por seus bens morais assim como pela piedade divina. Estejam avisados.

— Que angústia, Watson! — exclamou meu colega, que andava de um lado para o outro inquietamente, assim como havia feito durante o dia inteiro. E continuava misterioso como um baú teimosamente lacrado.

— Diga logo o que o atormenta, Holmes — pedi pela terceira vez.

Senti uma pontada de dor em minha cabeça e abaixei o jornal que lia para analisar o homem agitado. Balançou a cabeça negativamente, com o olhar perdido nas portas do armário. Parecia até que escondia algo ali, junto às nossas tralhas, mas, o conhecendo bem, era notório que estava distraído em seu palácio mental e talvez nem sequer houvesse escutado meu pedido. Pensei em repetir minha fala, mas apenas suspirei em um pedido silencioso de paciência a mim mesmo.

Sherlock Holmes não era de se resguardar de seus pensamentos comigo, muito pelo contrário. Adorava exibir-se com seus detalhados métodos dedutivos mas também permitia-se despejar suas frustrações enquanto ainda não houvesse chegado em uma solução. Já chegou a dizer que eu sou de boa ajuda, mas tenho certeza que ele estaria ótimo mesmo sem minhas pequenas contribuições, e teria da mesma forma solucionado os intrigantes casos que tive a oportunidade de acompanhar. De minha perspectiva ele é um homem brilhante e digno de muita apreciação mas, para ele, eu era convicto de que era visto como apenas mais um de seus inferiores intelectuais, e o acaso de morarmos juntos tornava conveniente a minha participação. Mas tudo bem, foram fantásticas todas as aventuras em que me envolvi desde então, não me importo de ser seu mero acessório.

Passado um tempo silencioso no qual eu voltara à leitura das notícias, desviei o olhar para a figura ainda em pé, ainda próxima ao armário, e me surpreendi quando notei que Holmes já me havia fixado seus olhos em mim. Não durou muito, pois logo retirou-se às pressas para seu quarto, carregando uma tensão que era quase palpável com a pressão de sua mandíbula e cenho franzido. Estranhei ainda mais seu comportamento. Nada comum para o homem que conhecia. Algo deveria estar muito errado, foi o que pensei. Não o vi mais naquela noite.

Foi na manhã do dia seguinte, quando me preparava para o desjejum, que me deparei com Holmes encolhido na poltrona da sala de estar, abraçando as próprias pernas. Seu rosto era notoriamente marcado por profundas olheiras e pelo vermelho invadindo o branco dos olhos. Seu corpo parecia ainda mais esguio do que o normal, o que o pintava com um aspecto doente.

— Por Deus, homem — me aproximei. Devo ter deixado minha preocupação escancarada em meu rosto pela maneira que tentou disfarçar seu estado. — Você não pregou os olhos essa noite? O que há de errado? — Abriu a boca para me responder, mas sua hesitação não o permitia prosseguir. — Seja lá o que for, sabe que pode me contar, certo? Perdi sua confiança?

— Não — respondeu de imediato. Foi o primeiro som vindo de sua voz que eu havia escutado em algum tempo, o que foi honestamente tranquilizador. — Mas é bastante pessoal. Não que eu me importe de conversar sobre isso, mas não sei se gostaria de escutar meus dilemas.

— Ora, pois me conte de uma vez. É claro que quero ouvir, sempre quero te ouvir. — Logo mais me acomodei em minha costumeira poltrona e, enquanto isso, observei de canto de olho que Holmes reprimia um sorriso. — Então...?

A Crônica Perdida | JohnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora