Capítulo 1

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"Comprei flores pra te dar, vivas e acima da terra
Diferente de você. Eu lamento."

Era inverno, a neve cobria o chão, eu e meus pais tinhamos nos mudado para uma casa nova, era grande, antiga, bonita, mas ao mesmo tempo, me passava medo e insegurança.
Entramos, o caminhão com nossas coisas ainda não tinha chegado, estranhamos, meu pai ligou para o motorista, o motorista estava em um engarrafamento, poderia demorar dias para chegar.
Decidi andar pela casa e conhecer o lugar onde agora eu morava, fui até a cozinha, era morna, o piso liso, a pia pingava, fui até ela para a fechar corretamente, mas notei que a água que saia dela era escura, mas ao mesmo tempo, avermelhada,analisei por alguns segundo e logo a fechei, saio da cozinha e ando pelos corredores, todos os dois corredores da casa, o cheiro de um cômodo entrou em minhas narinas, era um cheiro podre e eu o ignorei, fui para o cômodo onde seria meu quarto, o lugar tinha uma janela, paredes brancas, o chão de madeira, andei pelo quarto e logo noto algo que me incomodou logo que vi, tinha o desenho de uma coruja logo acima da porta, apenas linhas, mas os olhos eram coloridos de amarelo com um pouco de laranja, eram bonitos, mas algo me incomodava muito naquele desenho, sai daquele quarto e fui até meus pais, passei o corredor correndo, para evitar o cheiro podre, fui até o quintal, e lá está minha mãe, vou até ela. Minha mãe era uma mulher de cabelos longos, ondulados, olhos âmbar e pele clara, mas coberta de sardas, suas bochechas são levemente rosadas.

- Mãe!

Ela se vira para mim

- Sim?

- O que a senhora está fazendo aqui fora?

Ela ficou quieta, seus olhos se cruzaram com os meus e o vento gélido passando por nós fez nossos cabelos tremerem.

- Nada, apenas observando

- Mas não tem nada para observar

- Tem sim, as casas dos vizinhos, a floresta ali perto...

- Mãe, aquilo não é uma floresta

Não havia uma floresta, aquilo era um campo de flores bem coloridas, mas que não sobreviveram à neve, murcharam, queimaram com o frio, e morreram, a maioria já estava coberta pela neve.

- Não? Então o que pode ser?

Eu suspiro, pego a mão dela.

- vem mãe, vamos para dentro

- Claro... Fará chá para nós Natally?

- Sim mãe.

Nós entramos em casa, vamos para a cozinha, minha mãe senta na cadeira e eu pego as canecas, os saquinhos de chá também, mas quando vou encher a caneca para medir quanta água devo ferver, a água volta a sair escura e avermelhada.
- Mãe, se importa se eu subir para ver o que tem de errado com a caixa d'água?
- Não querida, pode ir

Fecho a torneira, saio e subo para o corredor de cima, vou até o sótão, passo por uma janela que havia lá, subo no telhado mais acima e procuro a caixa d'água, a acho e abro, me assustei com a cena que vi lá dentro, já que apenas esperava ver terra e água lá. Haviam exatamente vinte e duas aves mortas lá dentro, sangrando, algumas até se decompondo, o cheiro era horrível, cheiro de sangue, aquilo me deu náuseas e imediatamente fechei a caixa d'água, senti meu café da manhã quase voltar para a minha garganta.
O enjoo passou e comecei a andar pelo telhado, ainda um pouco tonta, uma das telhas escorregou, por coincidência, eu estava com o pé em cima daquela telha, escorreguei junto e me pendurei segurando firme na calha, senti arrepios, a calha estava gosmenta por causa de folhas velhas e secas e se quebraram e misturaram com lodo, eu gritei por ajuda, mas logo me lembrei que não conseguiria a tal ajuda, pois meu pai tinha ido comprar comida, e minha mãe provavelmente já estava viajando em seus pensamentos. Olhei em volta, meus dedos estavam começando a escorregar da calha, tinha um cano próximo de mim, era grosso e longo, eu poderia tentar pular nele e descer até o chão, e foi o que fiz, com o coração a mil, temendo por minha vida acabar ali, eu pulei, com sorte, consegui me agarrar ao cano, então desci por ele, chego ao chão tremendo mais do que nunca.
Me ergui e olhei onde eu estava, me encontrei na horta atrás da casa.

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