As marcas de Teodora.

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O passado de sua pretendente, não o interessava. Interessava ao jovem rapaz apaixonado a formosura da moça, sua vitalidade, seus atributos bem-conceituados na comunidade.

Casaram-se e foram viver juntos numa casa afastada. A casa era pertencente aos avós da moça. Era um casarão antigo que foi cedida pelos herdeiros para o jovem casal começar a vida a dois. Ao chegar, Tertuliano sentiu um mal-estar ao adentrar pela cancela e se por diante da porta da sala, ainda na varanda da casa velha. Sentiu um peso nas costas. Uma fadiga pelo corpo e calafrios quando estava na sala principal. Tertuliano era alto, com porte físico forte, mas lerdo de pensamento. Passou com facilidade nas portas alta e largas, daquele casarão antigo. Paredes brancas, mas manchadas de barro escorrendo pelas feridas como se fosse sangue nos buracos. Precisava de uma reforma urgente como um paciente que precisasse sarar as cicatrizes.

A noite de núpcias do casal foi um momento inesquecível, mas Tertuliano percebe sua amada perdida em pensamentos, com um olhar distante e fixo na parede manchada do quarto velho.

__ Está tudo bem, meu amor!

__ Sim, às vezes fico assim, mas não se preocupe. Só achei estranha aquela imagem que se formou na parede!

__ Que imagem, meu bem?

__ Deixe para lá, vamos dormir. Amanhã mostro para você.

A viagem tinha sido cansativa. Todos que vieram com o casal, já haviam retornado. A moça dá um suspiro profundo e apaga junto com a luz da vela que estava acesa. Ainda na escuridão daquela noite, Tertuliano fixa o olhar no teto do casarão antigo e fica pensando em como tocar a vida dali em diante. Acorda no dia seguinte com o canto de um galo, mas percebe que não tinham trazido galo nenhum. Deixa a mulher no quarto e sai em direção a cozinha e dá de cara com dois gatos, um gato branco e um gato preto. Volta, às pressas para o quarto ao ouvir um grito da mulher.

__ O que foi, meu bem!

__ Não sei direito, acho que tive um pesadelo. Uma voz sussurrando no meu ouvido: "Na parede!". Foi horrível!

Depois do conforto e carinho no colo do marido a mulher volta a realidade e segue a vida. A todo momento ela tenta sentir o que sentia antes de se casar, mas o tempo se torna um fardo pesado.

Tertuliano não sabe mais o que fazer. Nada dá ânimo novo nem trás o ânimo de sua juventude. A todo momento tem que estar ao lado da mulher, pois jurou no dia do casamente que estaria com ela na saúde ou na doença. Levou a mulher para a cidade. Quanto mais se distanciava de casa, mais melhorava os ânimos.

__ Ela está ótima. Os dados clínicos não mostram nenhuma anormalidade. Só apresenta uma leve anemia, talvez pela falta de ferro na alimentação. Como ela tem se alimentado?

__ Não compreendo, doutor! Como se explica isso! Ontem ela mal levantou da cama. Eu é quem estou cozinhando, estes dias, e você me diz que ela está bem!

__ Não sei, meu senhor! Fisicamente ela está muito bem. Essa anemia e essa palidez, talvez seja consequência do sedentarismo. Ela tem feito as atividades domésticas?

__ Não, doutor! Ontem mesmo minha esposa nem saiu do quarto. Preparei a comida e ela passou o dia todo encamada nem comeu quase nada.

Preocupado com a saúde da mulher, Tertuliano se ver com as mãos atadas. Não era o forte do mesmo, lidar com situações emocionais, estava sem rumo e desorientado com o que estava acontecendo. Decidem, de volta para casa, passar na casa dos pais da jovem. Parece até que já sabiam que vinham. Estavam na porta da casa, esperando os dois e Tertuliano achou estranho, pois não havia avisado nada para ninguém.

__ Até que enfim vocês chegaram! Passei a noite tendo visões e pesadelos. Como você está minha filha?

__ Ela não está muito bem, ultimamente, dona Maria! A senhora sabe alguma coisa?

As marcas de Teodora.Onde histórias criam vida. Descubra agora