As marcas de Teodora.

As marcas deixadas por Teodora em João.

Ao ler aquele bilhete, Tertuliano toma um susto e chama Cristina para junto dele. Quando chega a noite o casal tenta ficar ainda mais próximo um do outro. Ampliaram o número de lampiões para iluminar a casa. Com a claridade puderam observar as marcas deixadas por Teodora. Segundo o relato de João, aquelas marcas eram o sangue da mulher ao ser agredida até a morte pelo próprio marido. Tertuliano chega bem perto de uma delas e observa atentamente. Passa o dedo sobre as marcas, mas não consegue distinguir se é apenas mancha comum ou o sangue da jovem mulher. O casal vivia na casa sem tranquilidade. Quando a noite chegava era uma pilha de nervos a flor da pele. A mulher sentada ao lado da cama, escovava os cabelos e aquela sensação ruim de que estavam sendo observados, aparecia, vez por outra entre um e outro. De posse do pedaço de papel, Tertuliano conversa com a mulher para amenizar as sensações ruins.

__ O João nos enviou um bilhete, Cristina.

__ Que bilhete, homem! O que ele teria de importante para não nos contar, quando estivemos lá?

__ Não sei! Mas ele diz aqui, que Teodora deixou marcas profundas nele também. O que ele está querendo dizer com isso?

__ Que marcas, homem! Do que você está falando!

__ Enquanto você descansava, ele me contou tudo o que sabia de Teodora e do marido Leopoldo. Falou que estas marcas espalhadas pela casa são o sangue de Teodora, após ser agredida pelo marido.

__ Que conversa é essa, homem! Como ninguém da minha família nunca falou nada disso para mim?

__ Não sei, meu bem! Mas acho que essa casa guarda muitos segredos e temos que ter cuidado para nada de ruim nos acontecer. Amanhã mesmo vamos à casa de João para saber que marcas foram essas que Teodora deixou nele e você vai comigo. Não tenho mais coragem de deixar você sozinha, aqui.

__ Está bem, mas vamos dormir agora, pois estou muito cansada.

__ Tudo bem! Boa noite, meu amor. Durma com os anjos. Qualquer coisa eu estou aqui do seu lado.

Mal adormeceram Tertuliano começa a se debater na cama. Cristina acorda assustada com a situação anormal do marido. O galo estranho e mítico canta. Os gatos que ainda não tinham dado sinal de vida, iniciam uma briga no telhado da casa velha. Cristina tenta acorda o marido, sacudindo seu corpo de um lado para o outro. Ao despertar para a realidade, ele a joga para fora da cama. Em estado de choque com a brutalidade do homem, Cristina grita assustada.

__ Tertuliano, sou eu! O que está acontecendo com você?

Ao recobrar os sentidos, ele se dirige em direção a ela e ao chegar junto dela ele a abraça.

__ Desculpa, meu amor! Tiver um pesadelo horrível! Uma mulher com o rosto todo desfigurado estava virando meu corpo de um lado para o outro.

__ Meu Deus! Seria assombração! Será que estamos sendo possuídos pelos antigos moradores desta casa?

__ Não sei, meu bem! Mas vamos resistir e encontrar um meio de sermos felizes. Não fizemos nada de ruim para eles e terão que nos deixar em paz. Vamos tentar dormir, novamente. Amanhã vamos ter aquela conversa com o João e tentar entender mais sobre o que aconteceu aqui e com as pessoas que moraram nesta casa.

Os dois voltam a deitar na cama. Cristina fica um pouco apreensiva ao deitar a cabeça sobre o ombro do marido. Nunca tinha visto ele com aquela reação. Uma força descomunal. Num piscar de olhos ela estava no chão ao ser arremessada pelo homem. De olhos fixos no teto, Cristina vagueia em pensamentos. Não entende o porquê de Tertuliano querer permanecer na casa, depois de saber tanta coisa ruim ocorrida no local.

Lentamente pega no sono como se estivesse sendo manipulada por alguma força. Acorda de forma assustadora com o gato preto pulando em cima dela. Ainda ver o bicho correndo e entrando numa fenda aberta na parede. Então ela grita ao observar que o marido não se encontra na cama.