Dezembro chegou

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Ah, dezembro. O mês mais oligofrênico do calendário no Brasil. Para começo de conversa, mal entra dezembro e você é bombardeado com o "clima de Natal", que envolve renas, Papai Noel em roupas de veludo, bonecos de neve feitos de isopor e todos os símbolos de uma festa invernal, mesmo que aqui estejamos assando num calor de quarenta graus. Além disso, dezembro é o mês das festas e isso inclui a festa da firma, a "festinha" pro carteiro, pro lixeiro e para todos os profissionais que estendem uma caixinha enfeitada querendo uma gorjeta, e, finalmente, a festa de natal na sua família.

Dezembro, mês cheio de perguntas sem resposta: "Por que eu não me programei para viajar para longe dos meus parentes chatos?"; "Por que o brinde da festa da firma é tão vagabundo?"; "Por que a tia Julieta cisma em colocar passas no arroz e maçã na maionese?"; "Como foi que eu acabei aqui com a cara no vaso, já que a última coisa que eu me lembro foi de pegar um copo de sangria?" e, finalmente, a mais cruel e dolorosa pergunta: "Onde é que foi parar meu décimo terceiro salário?". É o mês que você começa pensando que tá rico e termina constatando que está mais pobre.

Normalmente, existem dois tipos de pessoas: as que amam o Natal e as que aturam o Natal. As que amam normalmente querem a casa com todos aqueles parentes que se evitam o ano todo, enviam 20 gifs de Natal no grupo da família e começam a planejar a festa no primeiro dia de dezembro. As que aturam o Natal normalmente são as que são casadas com o primeiro tipo e fazem todo trabalho que torna o Natal possível. Bardock era do primeiro tipo, Gine, do segundo, obviamente.

Mas, naquele primeiro dia de dezembro do ano de 2020 Gine acordou extremamente bem humorada. Paradoxalmente o ano mais chato da história da humanidade tinha tudo para ser o ano do melhor Natal da sua vida! Aglomerações estavam proibidas por conta da pandemia do coronavirus, então, ela acreditava, naquele ano Bardock não ia conseguir encher a casa de parentes, não ia organizar aquele horrível amigo oculto onde ela sempre ganhava um produto de 1,99 e ia ser obrigado a ficar sossegado e ser obrigado a cumprir a regra de evitar aglomerações. Nada de casa cheia, nada de parentes ou de amigo oculto. Um Natal perfeito, ela imaginava, só com a sua família e mais ninguém.

Gine estava preparando o café da manhã naquela terça-feira muito quente, acreditando inocentemente que Bardock ia levar a sério as recomendações sanitárias quando o filho mais velho entrou na cozinha.

– Oi mãe, bom dia! O pai já trouxe o pão?

– Não, saiu agorinha, tá com pressa?

– Não, só pego às dez – ele olhava o celular quando deu uma gargalhada.

– Que piada teu irmão botou no grupo da família agora?

– Não é nada disso não. Foi o Freeza, tô vendo aqui no Facebook, ele se candidatou a vereador, mas só teve três votos!

– Três votos? – Gine riu e completou – o pai, ele e quem? Ele não tem mãe!

– Sei lá, mas ele gastou dinheiro com um churrasco para a galera à toa. Eu não fui.

– O Vegeta foi – disse Goku, entrando na cozinha. – Mãe, o que é bom para enjoo de grávida?

– Minha norinha tá enjoada? Tadinha, Meu Deus! Ainda bem que esse ano não vai vir ninguém estranho aqui no Natal! Imagina minha norinha corongando! Eu mato um!

Raditz e Goku se entreolharam de forma suspeita, mas Gine não percebeu. Logo a senhora Uranai entrou na cozinha e perguntou pelo pão. Gine terminou de passar o café e disse:

– Cadê esse homem? – ela pôs a mão na cintura, porque Bardock estava demorando mais que o costume – quem será que ele encontrou dessa vez?

Então, é Natal! (Vida de Pobre no Natal)Onde histórias criam vida. Descubra agora