Capítulo único

248 50 58
                                    

Almas conectadas que se buscam sem parar.
Nesse mundo tão vasto, todos temos nosso par.
Se se encontram, a felicidade vem.
Se se separam, a dor os mantem.
Se uma ferida se abrir, se sua pele cortar, a dor não vai para ti, mas para seu amado par.
 

Stanley Marsh é um típico bonitão; tem porte forte, joga no time de futebol e possui capacidade intelectual mediana. O que a maioria das pessoas não esperava é que ele fosse um romântico incorrigível.

No universo de almas gêmeas, poucos são os homens que se preocupam em encontrar seu par e o moreno tem orgulho em pertencer a eles.

Toda vez que beijava uma garota, o mais novo dos Marsh chegava em casa em furava com um alfinete o dedo indicador esquerdo. Até hoje, seu dedo sempre sangrou, mas ele nunca sentiu nada.
 

Não tenha medo, não sinta aflição.
Não deve ser eterna essa dolorosa conexão.
No dia que a tal metade encontrar,
Cada um com a própria dor há de arcar.
 

Frustrado. Era assim que o moreno se encontrava. A lista em suas mãos mostrava o nome de todas as garotas de seu ano que ainda não haviam encontrado sua alma gêmea. Coincidentemente ou não, todas estava com o nome riscado por já terem trocado saliva com o capitão do time.

-Cara, que saco... -O garoto reclamava enquanto andava para a casa. -Não é ninguém que eu conheça, vai ser muito difícil achar.

-Você devia deixar isso pra lá. -Kyle opinou. -Às vezes deixar o destino agir é a melhor forma.

O moreno ouvia emburrado, totalmente descontente com a situação.

-Você lembra daquele casal que foi na escola no começo do ano? -O ruivo perguntou. -A mulher era do Vietnã e eles só se conheceram por acaso, quando ele foi pra guerra.

-Eu sei, Kyle, é por isso mesmo. -O Marsh disse. -Eu não queria depender do destino pra me sentir completo.

-Pra mim isso tudo não passa de uma grande idiotice. -O sardento opinou, ganhando um olhar desacreditado do melhor amigo. -Dizem que precisamos estar com a alma gêmea pra nos sentirmos bem e completos e sei lá mais que outras baboseiras, mas eu não achei a minha e nunca senti esse vazio intenso.

-Deve ser diferente de pessoa pra pessoa. -Stan refutou. -Eu, por exemplo, quando estou sozinho em casa, às vezes sinto um incômodo, e a Shelly tem crise de enxaqueca sempre que o Kevin viaja.

-Por isso mesmo eu digo: Nossa sociedade não deveria ser tão ficcionada em almas gê... -O ruivo não terminou de falar. Um pequeno desnível na calçada o fez tropeçar e cair.

-Kyle! -Stan se assustou. -Você está bem?

-Estou. -O Broflovski respondeu enquanto se levantava. -Só ralei um pouco as mãos.

O mais alto mostrou as palmas para o outro; ali tinham diversos ralados causados pelo atrito na hora de tentar amortecer a queda. Coincidentemente ou não, as palmas da mão de Stan começaram a arder.

Pessoas que não ligassem muito pra almas gêmeas deixariam esse acontecimento passar despercebido ou, simplesmente, contar como coincidência, mas Stan Marsh era um romântico incorrigível.

Seus olhos azuis se arregalaram com a possibilidade que sua mente criou e ali, enquanto seu melhor amigo tirava o pó dos joelhos, decidiu que teria que tirar a prova.

Num súbito sem aviso, puxou a blusa laranja que o outro vestia e colou os lábios em um demorado selinho.

-Cara...? -Kyle estava atônito, sem entender o que tinha acabado de acontecer.

O moreno, por outro lado, partiu em disparada para sua casa. Cruzou os quarteirões como um raio, ignorou sua mãe quando passou voando para subir as escadas e hiperventilou enquanto buscava dentro da gaveta o tão familiar alfinete.

Quando encontrado, o pequeno objeto de costura parecia vibrar e refletir sua ansiedade.

O Marsh sentou na cadeira em frente a bancada, respirou fundo, alfinetou o indicador esquerdo e assistiu o dedo sangrar... Após sentir pela primeira vez a fisgada da agulha fina.

Connected by pain [SP Style]Onde histórias criam vida. Descubra agora