Cap. 2 - Lissa

5.6K 398 10
                                    

        Finalmente depois de mais de 4 horas de viagem eu estava chegando a New Bern. Faz 13 anos que não visito minha terra natal. Acho que estive tão focada no meu futuro, nos amigos e na vida que eu tinha em New York que nunca me interessei de voltar aqui. Nunca tive muita coisa por aqui quando criança. E eu sempre me escondia pelos cantos preferindo a companhia de um livro a brincar com outras crianças. A não ser...

        Marcus Parker.

       Fazia um bom tempo que eu não ouvia esse nome. Até semana passada, quando ligaram para Kate dizendo que mamãe tinha morrido de overdose de medicamentos. Ela nunca mais foi a mesma depois da morte do papai, mas Kate sempre dizia que ela estava bem, e quando ela nos visitava apenas reclamava de ter que deixar tudo nas mãos de seus funcionários.

        Mas eu nunca havia imaginado que seu gerente era Marcus.

        Fui embora de New Bern com 8 anos. Nessa época, Kate morava com tia Luciana e já estava começando sua faculdade de economia. Ela tinha certeza que teria que comandar a lanchonete da família e Kate é perfeccionista. Eu estava parcialmente feliz em morar em um lugar mais agitado onde eu teria muitas outras coisas para fazer além de ler e caminhar, mas eu sabia que não era isso que me incomodava. Não era o fato de nunca mais acordar com o canto dos pássaros, a brisa e o perfume do oceano ou as caminhadas à beira-mar.

        Era por causa de Marcus. Do meu melhor amigo.

       Marcus sempre cuidou de mim. Desde que eu era um bebê. Mesmo sendo 15 anos mais velho ele sempre cuidou e brincou comigo como se eu fosse sua irmã mais nova. Ele era o único motivo que me fazia hesitar sobre New York. Eu sabia que se eu fosse morar lá de vez eu perderia a única pessoa que realmente me entendeu desde que eu nasci.

        Mas eu não tive escolha. Me pressionaram até eu ir. Depois daí eu soube que Marcus iria casar e sua noiva estava gravida de um garotinho. Eu cheguei a lhe escrever mandando meus parabéns, mas quando vi a foto da noiva dele e vi o quanto ela era bonita com seus olhos escuros e seu cabelo loiro percebi que meu tempo de atenção com Marcus tinha passado e era hora de permitir a ele uma vida sem mim.

        O tempo passou e fui me dedicando mais aos estudos. Descobri que tenho uma ótima aptidão para as artes e me joguei em ateliês, casas de teatro, cinema e até dança. Percebi que New Bern era onde eu tinha nascido, mas New York havia criado minha identidade, então não me interessei mais de ir lá. Nunca voltei pra New Bern.

        Há alguns anos meu pai foi diagnosticado com câncer e, em poucos meses, faleceu. O choque da notícia me deixou tão abalada que desmaiei e fiquei inconsciente tempo suficiente para não participar do enterro do meu pai. O mesmo aconteceu recentemente, no de minha mãe, o que fez eu adiar meu voo em mais de um dia. A culpa me queima por não ter ido me despedir dos meus pais, mas eu não consigo me despedir. Não consigo acreditar que duas das pessoas que mais amo se foram.

        Enfim, antes de partir para o enterro, ainda no hospital, Kate e o Dr. Flanning leram o testamento de mamãe para mim. Foi uma tortura. Eu nunca conseguiria viver naquela casa. Não sem meus pais. Eu sabia que cada lugar que eu olhasse seria uma lembrança que um dia eles estiveram ali. Por isso eu decidi vender a casa. Após o enterro eu voaria até New Bern, limparia a casa e a venderia.

        Com relação as participações no restaurante, eu não tinha comentado com ninguém mas eu iria dá-las a Kate. Foi ela que sempre estudou pra isso. Eu só quero me livrar de qualquer lembrança que me faça chorar.

        A carta. O que mamãe quis dizer com aquela carta? Leia apenas quando tiver certeza que perdeu tudo. Em que sentido? Financeiramente estou estável. Trabalho como gerente em uma loja de roupas femininas. Meu emocional está ok. Meu sentimental está...

        Ok, o anel na minha mão fala muita coisa. Mas o que eu sinto por Josh ainda é algo desconhecido, um terreno que eu espero me acostumar por que é fácil e seguro.

        Eu senti o avião descer lentamente e logo depois estacionar. Kate disse que eu não iria precisar alugar um carro porque viriam me buscar. Mas quando perguntei quem, Kate teve que ir cuidar de minha sobrinha, Julia, de seis anos.

        Peguei minha bagagem na esteira e sai para o estacionamento.

        Oh, Deus.

     Havia um homem lindo encostado em carro com uma placa: Lissa Stevenson/Bem vinda :). Desconfiada, me aproximei do homem, que pareceu surpreso ao me ver.

        - Lissa? – Perguntou ele.

        - Sim, sou eu. – Respondi, cautelosa.

        Ele sorriu. Quase desmaio com o poder de seu sorriso.

        - Marcus, não lembra? Caramba, achei que eu tinha mudado, mas não ao ponto de você não me reconhecer. Como vai?

        OMG, aquele era Marcus? Jesus, espero não ter babado em cima dele! Imagina só as coisas que eu estava pensando dele! Sob o tom alegre dele, me permiti abraça-lo.

        - Ah, olá, Marcus! Desculpe, sou uma péssima fisionomista. Eu estou bem. E como vai você?

        Ele deu um sorriso que não chegou aos seus olhos.

        - Estou suportando. Sinto muito pela sua mãe, Lissa. Ela era uma mulher incrível. Vou sentir uma profunda falta dela.

        Lissa ficou surpresa com as palavras. Ela havia escutado tanto essa frase nos últimos anos que deixou de acreditar que as pessoas realmente sentiam muito pela falta de seus pais. Mas Marcus parecia tão chateado e triste como ela, perdendo a alegria inicial da apresentação.

        - Oh, obrigada, Marcus. Eu também. Bem, podemos ir?

        Marcus hesitou.

        - Claro! Eu estou apenas esperando...

      - PAPAI! PAPAI! – Gritou uma voz feminina infantil – Gabe não quer dividir o chocolate dele comigo!

        De repente, Marcus tinha uma garotinha em seus braços e um garoto ao seu lado. O garoto era mais velho. Aparentava uns 17 anos. Tinha pele clara e cabelos e olhos escuros como os de Marcus. Ele carregava uma barra de chocolate comida na mão.

        A garota era linda: seus olhos eram azuis como os de Lissa. Pele clara e cabelos castanhos e cacheados. Na sua boca faltava um par de dentes e Lissa não duvidava que ela os pusesse sob o travesseiro para a fada do dente.

        - Eu já te dei sua parte!

        - Gabe, me dê a barra – Cortou Marcus. O garoto obedeceu, girando os olhos. Marcus tirou um pedaço para a garotinha e devolveu o resto para Gabe. – Sem mais brigas. Nossa convidada chegou. – Os três olharam pra ela. – Filhos, essa é Lissa Stevenson. Ela é a filha mais nova de Grace. Ela vai passar um tempo na casa de Grace.

        Lissa estava estupefata. Primeiro, pela autoridade de Marcus com as crianças e segundo: AQUELES ERAM SEUS FILHOS! Não um, mas dois! Sem graça, ela apenas acenou um oi tímido.

        - Lissa, esses são Gabe, meu primogênito e Alyssa, minha filha mais nova.

        - Alyssa? Como eu? – Perguntei, boquiaberta. Marcus sorriu.

        - Sim, como você. Agora vamos, está esfriando e não queremos chegar muito tarde em casa.

        Todos entraram no carro: Marcus no volante, eu ao seu lado e as crianças no banco de trás. Logo senti uma mãozinha puxar delicadamente meu cabelo.

        - Seu cabelo é bonito. Seu nome é igual ao meu? Nós temos olhos iguais!

----------------------------------------------------------------

Espero seu comentário e/ou estrelinha. Até o próximo capitulo!

Sempre Foi Você - Serie Reencontros - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora