As madrugadas de inverno, sempre foram as mais
cruéis.
Acordei no espanto, um pesadelo, ou um presságio.
Flores caindo em meio á um incêndio, camélias,
camélias em tom escarlate, bem formadas, reluzentes
como cristais.
A respiração, fulminante, os lábios frios, rachados pelos
dois graus do inverno sulista. Ainda em choque, pelo
sonho,pensei comigo, se valeria a pena levantar, beber
água, e ir ao banheiro. O sono não vinha, cheguei a
sentir calor, me sentia como no pesadelo, ainda estava
queimando.
Decidi me levantar, tocar o mármore de madeira nunca
foi tão reconfortante para mim, após, o pesadelo, me
sentiria confortável até mesmo, no frio. A casa cheia,
estava vazia. Caminhei pela casa, durante a
madrugada, por muitos anos, .caminhava para afogar
as mágoas, de um passado conturbado, um presente
deprimente e um futuro desorganizado.
Segundo o relógio, já faziam 47 minutos que eu estava
lá, em pé, diante do espelho, observando os vastos,
detalhes de meu rosto. Contei cada pinta, cravo,espinha, estava disposto a contar os fios de cabelo se
não tivesse grande e bagunçado.
Estava tudo "normal" depois da primeira hora, mas
depois da segunda, eu estava alucinando, ouvindo,
sentindo odores, sentindo toques. Não conseguia voltar
para a cama, tinha medo de sonhar de novo.
Foi tudo tão rápido,em fração de segundos vi tudo ir
pelos ares, vi tudo acabar, tudo explodir.
Tudo terminou, do mesmo jeito que começou.
Sentado, em uma poltrona de couro da delegacia local,
eu sentia o mundo girar, tentando entender o que havia
acontecido, sem respostas eu pego flores que estavam
no chão do pátio, após a explosão. Duas camélias.
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Presságio
Short StoryUm pequeno conto sobre um rapaz que vê situações, antes das mesmas se projetarem na realidade.