O som
Os gritos distantes
Os ecos de dor preenchiam os acordes
Envolto em uma atmosfera de subjetividades, em mim centrada
Uma bolha
O frio ardente repousava sobre meus braços e pés nus
Aquela calça me agradava de uma indescritível maneira
Meti a mão nas algibeiras, que afundavam até longas distâncias em direção aos meus pés
Não encontrei só calor, mas também um resto de cigarro que lá residia há dias
Por sorte, o isqueiro também estava ali
Caminhei em direção ao absurdo frio exterior
Caminhei pela rua a beira de um desmoronamento
Aquele cigarro que acendi a custo de um esforço sobre-humano
Aquela brasa
Aquela brasa queimava minha vida
Queimava uma dor
A dor do encaixe impossível
De sempre estar no exterior
Do não pertencimento absoluto
Não pertencia ao mundo dos vencedores altivos e estáveis
Nem ao mundo dos poetas sublimes
Estava na mediocridade
Preso em minhas próprias armadilhas
Perdi minha vida nessa forja satânica
Arquitetando vis instrumentos de tortura
Minha vida exterior se distanciava tanto de minha realidade anímica que uma corrente de contradições definiam a ilogicidade da minha existência
E a ilogicidade daquele tabaco refletia isso
Acompanhei por um instante o afastar da fumaça que rumava para as estrelas
Todas elas, todas as estrelas estavam presentes naquela noite
Noctívagas que, assim como eu, acompanhavam o quarto lunar
A vida é sempre isso
Uma coisa inacabada, indefinida
