Heartbreaker Club

Find a heart

Before

Você já parou para pensar em como a maioria das frases que dizemos e conhecemos são emprestadas? 
Seu personagem favorito não disse aquele quote que você tanto gosta. Um autor ou roteirista bolou aquela junção de palavras – que, muito provavelmente, foram inspiradas em outras, ditas por outrem. 
Alguém disse aquilo, que convenceu outra pessoa disso. Que de alguma forma conheceu você, e eventualmente o apresentou tal pensamento. E você o passou para o seu amigo. Nas – quase – exatas e mesmas palavras que ouviu. 
Somos como rádios antigos procurando por frequências em que possamos sincronizar, para então repetir o que alegam. Precisamos ser. 
Se não temos algo para repetir com convicção, não temos algo. Temos nada. 
E é assim que as pessoas começam a se perder: no momento em que as palavras confiáveis à repetição se esvaem. 
Era nesse estado em que me encontrava quando conheci Jungkook.
— Então… Miyeon, huh? — Soprou meu nome por entre os lábios mais uma vez. 
Tive de respirar fundo. Não sabia o porquê, mas sua simples gaze me desestabilizava. 
Jungkook era atraente como um todo. Sua estrutura completa gritava e esperneava mistério. E, em conjunto dela, meu corpo emanava interesse. Em níveis altíssimos. 
— Sim, Jungkook. — A maneira como seu nome soava era divertida por si só. Eu sabia que o silêncio não absoluto era um claro sinal da falta de assunto entre nós somada à estranheza da situação, porém não me importava. 
Finalmente estar com Jungkook era uma dádiva. 
Jungkook. Jungkook. Jungkook. 
Agora sei seu nome. Jeon Jungkook. 
Sorri, insconciente, o que despertou a curiosidade do rapaz. 
— O que foi? 
Rapidamente desviei o olhar, fitando as árvores coloridas do parque balançando com o vento. 
— Eu gosto da primavera. É uma pena que esteja acabando. — Comentei o primeiro pensamento que me veio à mente. 
— Oh… — Sorriu. — É bonito. Não sou muito fã do verão, então também acho meio chato que ela esteja indo embora. Mas… Prefiro o frio. O outono ou o inverno. — Levantou os olhos para o céu. — O frio é reconfortante, sabe? 
Não. Eu não sabia. 
— O que tem de reconfortante em sentir frio? — Indaguei, verdadeiramente confusa. 
— O calor que vem depois. — Seus olhos fecharam de maneira adorável. E eu tremi. 
Não de frio. E sim porque… Ah...
Uma gota caiu em meu ombro em meio ao pensamento. 
Estava prestes a chover. Estava?
O vento ainda vagava pelos dias; soprava nas árvores. O céu estava coberto de nuvens. Mas as flores permaneciam ali, lutando contra o externo que ameaçava seus curtos caules. 
E havia algo de tão belo nisso. Tão romântico o suficiente para tornar a caminhada ainda mais cor de rosa ao meu viés. 
Mas estava prestes a chover. Será que iríamos dividir um guarda-chuva? 
— Vai começar a chover… 
— Uhum. — Parou por um momento, refletindo algo. Então tornou a andar, só que com mais velocidade.  — Precisamos correr. Espero que os meninos cheguem rápido. 
Havia me esquecido dessa parte.
— Oh, seus amigos… — Apertei o passo para acompanhá-lo. — O que nós vamos fazer com eles? 
— Nós? — Seus lábios repercutiram minha fala de maneira mecânica. Foi quando percebi que não estava inclusa nos planos. — Oh — Continuou, percebendo que havia sido transparente demais. —. Nós vamos conversar um pouco na árvore. 
— Que árvore é essa? 
— Uma mágica. Fica nos fundos do parque. — Sorriu ladino ao retorquir. Não soube dizer o nível de sarcasmo na fala. Chutaria "alto".

Não conheci Jeon Jungkook nessa tarde. Observei-o de perto, mas não me aproximei verdadeiramente. 
Todavia, conheci o sentimento de frustração em níveis até então obscuros quando cruzei com Park Jimin e Jung Hoseok.
— Whoa, que bonita! — Uma cabeleira ruiva entrou em meu campo de visão antes do rosto abaixo dela. O rapaz jovem, provavelmente da idade do Jeon, apoiou seu antebraço em meu ombro e curvou seu tronco em minha direção. Arregalei as pálpebras, nervosa com a aproximação. — Já se decepcionou com o tamanho dele? — Mirou Jungkook de soslaio ao soltar, atroz. 
— Cala a boca, Park! — Meu acompanhante inicial bradou, empurrando o seu amigo para longe de mim.
— Já vi que ainda não chegaram lá, então. Meu conselho é nem ir! 
Meu semblante aprofundou em confusão. Assisti os dois homens se enfrentaram em falsas ameaças, sem perceber outro parar ao meu lado. 
— Não liga pra ele. Jimin é sem noção. — Sorriu largamente. Não pude evitar retribui-lo. — Prazer, Jung Hoseok. 
Eu gostei de Hoseok. 
— É um prazer, sunbaenim. Sou Cho Miyeon. — Cumprimentei-o de maneira formal, atraindo a atenção daquele de fios ruivos novamente. 
Sem filtros, ouvi-o dizer, confuso e em tom de quem estava zoando com a minha cara:
— Mas que porra…? 
Não gostei de Jimin. 

Then

Aulas de física são chatas. Ainda mais as de revisão para assuntos que você nem sequer havia compreendido da primeira vez. 
Meus olhos fitam o professor. Definitivamente, não com atenção. 
Já havia desistido da física. Teria de passar sem ela.
Não desisti de Jeon Jungkook, no entanto. 
— Você é boa demais pra isso. — Ele diz. E, de novo, não entendo seus motivos. — Faça algo estúpido, quebre um coração — Continua. E eu continuo não o fitando. —. E, quem sabe, aí você esteja pronta pra andar com a gente. — Sorri ladino ao concluir.
Quebrar um coração… Isso me faria estar à altura deles? Ser digna das crianças descoladas? 
Eu gostaria de provar que posso. Que não sou boba. Não sou. 
Preciso ter Jungkook por perto. Preciso mudar a imagem que eles têm de mim.
Por onde começar? 
Experiência. Não tenho experiência em muita coisa; na vida, garotos… 
E como posso obter experiência?
Vivendo. Conhecendo garotos. Saindo com eles. 
Mas quem?
— Hmm… Miyeon-sshi? — A voz grave arrepia-me a nuca. Sinto o ar quente batendo próximo ao meu pescoço, em um chamar oposto à mim.
Viro-me lentamente para trás, encontrando o rosto pequeno e bonito de Taehyung.
Kim Taehyung. Vinte anos. Pretende passar em Engenharia Química. Divertido e engraçado; temos gostos muito parecidos para séries e filmes, num geral. Sempre que nos sentamos próximos um ao outro, conversamos bastante. 
Eu gosto de Kim Taehyung.
— Sim? 
— Você precisa de ajuda com a matéria de física? — Aponta para baixo com seus dedos polidos e compridos, sigo a direção que mostram: minha apostila de exercícios  em branco. 
— Bem… — Coro sob seu olhar, envergonhado por ter minha falta de atenção e aptidão notadas. 
— Eu posso te ajudar com isso. O que acha? — Arrasta o corpo para fora da carteira. Só então percebo que a aula já havia terminado. — Quer estudar comigo hoje? Podemos comer na cafeteria aqui do lado e revisar. — Sua mão direita alcança a sua nuca e os olhos castanhos são desviados por alguns instantes. 
Olho com mais atenção. Ele parece… Nervoso? 
Pergunto-me o porquê. 
Antes de imaginar uma resposta, outra surge em minha mente. 
Kim Taehyung é um garoto. 
E um garoto é o que eu preciso. 
— Me ensine com paciência, por favor — Junto as mãos e abaixo a cabeça em frente a ele. — Vou pagar a sua janta em troca, huh? — Torno a mirá-lo para adicionar. 
Eu sei que posso. Será fácil. 
— Combinado.