Caminho sem saída

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— Não espie! - murmurou a mulher mais velha ao pé do ouvido da menina, fazendo-a arrepiar levemente.

— Por que não? — murmurou de volta, enquanto um biquinho se formando em seus lábios

— Porque estamos quase chegando, além disso, se você olhar vai perder a graça!

— Sabe, Joohyun, eu não sei se deveria confiar em uma mulher que dirige tantos veículos. — Seulgi virou-se em direção a mais velha. — Tipo, sério! Quantas categorias você tem na carteira de habilitação? — Soltou uma leve risada.

— Tem razão, Kang. Você não deveria confiar em uma mulher só porque ela é bonita e dirige qualquer veículo existente com maestria. Quer dizer, eu poderia te sequestrar se quisesse. - Soltou uma leve risada maléfica.

— Para! Isso não é coisa que se fale para uma dama quando ela está literalmente no banco do carona em seu carro. - Ela se encolhe brevemente – Eu tenho medo dessas coisas.

— Ora! – Joohyun se permitiu gargalhar um pouco. - Você quem começou!

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— Pode abrir. — Joohyun sorriu de lado assim que conseguiu desfazer o nó que prendia a venda aos olhos da mais alta
— Meu... Deus! É lindo, Joohyun - exclamou a mais nova. Estava maravilhada — Esse era o meu lugar favorito de estar quando eu era criança. Minha mãe sempre me trazia aqui. E você me disse que gostava de livros então eu pensei que deveria te mostrar o meu refúgio.

Seulgi não falou uma só palavra desde o momento em que começou a passear livremente por entre as enormes e pesadas estantes que comportavam uma grande quantidade de livros, dos mais variados gêneros. Ela passou um bom tempo olhando capa por capa, autor por autor, edição por edição. Até que notou um pequeno espaço vago entre um livro e outro. Levantando a visão, voltou sua atenção à mulher mais velha da qual, por vários minutos, esquecera a presença. Percebendo um misterioso livro em sua mão, aproximou-se na expectativa de conseguir ver o título, sem sucesso.
Joohyun abriu o pequeno livro folheando suas páginas como se procurasse por alguma coisa muito específica. Como se soubesse exatamente onde deixara marcado a última vez que leu. 

— "Devemos começar a amar a fim de não adoecermos... — ela leu, enquanto observava atentamente a expressão familiar que se formava no rosto da maior — ...E estamos destinados a cair doentes se, em consequência de frustrações, formos incapazes de amar.”

— Sigmund Freud! – Seulgi exclamou, logo dando lugar a uma expressão interessante.

— Então você o conhece? — Joohyun sorriu, fechando o livro e colocando-o de volta na estante.

— Na verdade, é muito difícil não conhecer o pai da psicanalise, não é? — ela retrucou

— Além disso, ele tem obras no mínimo curiosas, até para as pessoas mais leigas. Eu tive a oportunidade de estudar um pouco sobre ele nos primeiros anos de faculdade. Aprendi muito. 

— Então, temos aqui uma fã do austríaco! - provocou Joohyun aproximando-se lentamente. 

— Não disse que sou fã, só disse que acho a maioria das obras interessantes e que acho muito bem constituídas, considerando que ele viveu no século XIX — ela explica calmamente seu posicionamento, enquanto vai de encontro à pequena vitrola que fica no canto da parede dianteira

— Que coisinha mais linda! E o som é bem agradável.

— É sim — Joohyun sorriu, indo em direção a maior, percebendo que ela estava começando a aproveitar o leve embalo da música.

Não foi preciso mais que três encontros para que a mais velha conseguisse perceber alguns pontos sobre a personalidade de Seulgi. A priori ela sabia que a garota era muito inteligente e esforçada. Mas também poderia ser distraída e até ingênua as vezes. Tinha a característica de conseguir sair da realidade muito fácil, seja em seus devaneios, enquanto observava as nuvens no céu, entre uns fios de macarrão, ou até mesmo, quando estava de olhos vendados. E todas essas características eram o que fazia de Seulgi a mulher mais adorável do mundo. 

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