DarkZoregon

O uivo do vento, sopra forte em meus ouvidos. A caminhada cada vez mais longa, cansativa e hostil.
          O precipício logo ao lado, o oásis logo em frente, mas não passam de miragem.
          Minha boca está tão seca quanto o deserto, meu coração tão frio quanto suas noites, enquanto minha cabeça se encontra em chamas, atordoando meus pensamentos e me deixando ainda mais louco.
          Sou apenas um andarilho no meio desse enorme vazio atordoante, um mero espectador entre outros viajantes, outras almas perdidas e sem rumo.
          Ainda não sei onde meus pés cansados iram me levar, não sou capaz de dizer se serei capaz de alcançar, apenas sigo em frente, pois é o que me resta. Preciso caminhar. 

É isso, preciso passar uma água em meu rosto e me recompor. Logo tentarei voltar a minha falsa neutralidade, mas sem sorrisos, pois não aprendi a emular um. Porém, quem sabe eu diga que está tudo bem, mesmo que minha mente esteja desabando. 

Acho que eu me lembrei de um dos motivos para que as coisas sejam como são comigo. Não tenho palavras para nada disso. Mas é importante lembrar, é importante reabrir essa ferida que quase se cicatrizou. Eu não posso esquecer de um dos acontecimentos mais dolorosos pelo qual passei e sei que havia alguém que passou comigo. Acredito que, talvez sentisse essa dor tanto quanto eu. 

Me pergunto, o que estou fazendo com essa merda de vida, nem coragem eu tenho… e não posso culpar alguém por tantos fracassos, tanto desânimo… Uma vida desperdiçada, talvez mais uma… pois não consegui valorizar o que obtive nesse meio tempo. É aquela, eu realmente deveria estar orar para deixar de existir, mas falo por completo, não quero mais nenhuma chance de retornar. Eu só não quero mais. 

Tem dias que consigo me sentir ainda mais quebrado que o normal. O ar abafado e o calor intenso, aumentam ainda mais a falta de ar. Da vontade de desistir… Eu já costumo sentir vontade, mas tem dias que simplesmente transborda. Eu queria conseguir chorar mais, pois eu só acúmulo e vou enchendo de tantos sentimentos e, eu não consigo esvaziar, apenas… ultrapassa meus limites e minha humanidade… o pouco que me resta ou que simulo que ainda exista. 

A questão é que o mesmo veneno que corrói minha carne, é o mesmo que corrói a pele daqueles que se aproximam. E esse é apenas um dos sintomas. Pois com o passar do tempo, o veneno toma conta de todo o seu corpo, sentimentos e pensamentos. Por mais que continue a se comunicar, sorrir, chorar, por mais que diga que esteja bem, aquele veneno já consumiu sua existência e tudo que sobrou, fora a sua casca vazia.

É engraçado como o mundo continua em sua jornada, enquanto me vejo estagnado, talvez passando pelos problemas que já deveriam ter se solucionado a meses, talvez mais de ano. A forma como eu vagarosamente continuo a existir me perturba, pois nem a escrita tem me afetado como antigamente. Assim como criamos resistência para com algum remédio, talvez eu tenha criado resistência a uma das poucas formas que eu encontrei de aliviar meu coração. O mundo continua, enquanto eu me enveneno mais e mais com o passar do tempo.

Bebeu água!?

Você já comeu!?

Tô com fome