[...] Costumo repousar a cabeça em um local maciço, fecho os olhos e liberto meus pensamentos para não surtar, e lá está ela deslizando silenciosamente por entre cada partícula que possuo, segurando minha mão com delicadeza e soprando mais uma vez o calor para minha condição fria. Minha solidão é aconchegante e sabe acalmar. Ela faz parte do meu ser, em partes, desde que percebir minha condição de figurante na vida de muitas pessoas que inutilmente eu tratava — e continuo tratando — como estimados personagens principais. Lastimante e frequente. Entretanto, diferente do que dizem ela não é a ausência de alguma presença, e sim a ausência da sensação de pertencimento. Quantas vezes ainda que rodeados de presenças sentimos a falta de encaixamento, o desconforto, os sentidos em outro planeta. O tal do não pertencimento. A misteriosa solidão. [...]
— Fragmento de Instantes