D: o que faremos?
S: fugimos sem olhar para trás, sem despedir do passado, vamos atravessar a porta e dizer Olá ao futuro
D: E depois?
S: Depois vivemos como bem nos apetecer
D: E como nós queremos viver?
S: Não posso falar por ti, mas eu quero viver sempre a sorrir, quero correr e encontrar-me sempre em teus braços...Eu quero ter um jardim, mesmo que pequeno, quero cultivar rosas e amigar-me com elas! Quero uma casa simples e um trabalho que não coloque fios brancos em meus cabelos, quero ser livre para escolher e para fugir as vezes que forem precisas
D: Queres viver no sonho Sara? Queres viver uma fantasia?! E queres que eu preencha um espaço em tuas loucuras?
S: Talvez, mas não são sonhos, fantasias ou loucuras, não trates meus desejos como simples palavras que nunca irão se concretizar
D: Tu falas de mais, sonhas de mais e foges sem rumo algum, já eu estou preso a uma cadeira de rodas que é empurrada por pessoas que sentem pena de mim...eu não sou livre para fugir sozinho ou mesmo acompanhado por alguém que não seja a minha enfermeira! Até as minhas lágrimas eu não sou capaz de carregar, quanto mais o amor que eu sinto por ti Sara
S: Tu não es o único no mundo que perdeu o movimento das pernas, das mãos, dos dedos, do corpo inteiro! Mas tu podes ser um dos únicos que não irá render-se as partidas do mundo! Então para de lamúrias Diego,pois tem pessoas que nem tiveram a oportunidade de amar alguém
D: Pensa em ti, para quê fugir com um doente, incapacitado que nem limpa o proprio rabo
S: Eu fujo com o amor da minha vida, o resto é puro detalhe, então Diego? O que faremos?
D: Tu foges e eu fico aqui a espera
S: A espera de que?
D: De morrer, e se for possível só
S: Então eu morrerei primeiro, assim não terás motivos para voltar atrás
D: o facto de ser um inválido será motivo suficiente, e quanto a ti, deixa de dizer parvoíces e foge de encontro aos teus sonhos
S: até logo amor
D: até nunca mais Sara