No capítulo 17...
(...) — Eu sempre soube. Sempre esteve aqui dentro de mim. Esse não é um tipo de coisa que se descobre. Está alocado lá dentro de você, em algum lugar; só isso! Num dado momento vai se manifestar e virar o mundo das pessoas de cabeça para baixo. Na minha época não se podia apresentar sinais femininos, falar mole ou brincar com certos tipos de brincadeiras que eram tabus familiares que motivavam internação, educação religiosa e até mesmo casamentos forçados. Declarar-se homossexual era sinais de loucura. Doença. Tenho vários amigos que sofreram com isso e outros que foram mortos -, ele me encarou — De todas os sofrimentos, escolhi casar. Namorei uma mulher e amei um homem. Tive uma vida dupla. Minha esposa sempre desconfiou. Ela não era burra! Ao contrário, era uma mulher inteligentíssima e que mereceu todo o meu respeito. Tivemos cinco filhos. Ela foi uma esposa abnegada e mãe exemplar. Foi a base da minha vida. Graças a ela eu consegui manter as aparências e destacar no meu ofício. As pessoas sempre desconfiaram que eu gostava de homens. Houve insultos e piadas veladas sobre isso, mas, a presença dela deixava uma interrogação no ar. Até que ela morreu e eu assumi de vez aos meus filhos, já depois de certa idade o que eu era. Os filhos respeitaram e me compreenderam. Não aceitaram, mesmo assim cuidam de mim e trazem os netos para que eu os veja. Acho que a mágoa maior que ficou da parte deles foi o velório do meu amante dentro de casa e na frente de minha esposa. Foi uma noite difícil! Eu não consegui controlar e chorei muito na frente deles. Quando dei por mim estava abraçado ao caixão o chamando de meu “amor”. Meus filhos sempre souberam, mas como em tudo que cerca os homossexuais, ficou velado. Intocado. Até terem que ouvir de minha própria boca e se calarem até eu entrar em defesa da causa no meio jurídico.
(...) https://www.wattpad.com/702838220-translucidamente-17-alma-nua-carne-crua