...
Mas já havia.
Entre os troncos retorcidos, dois pontos de fulgor pálido surgiram, distantes, baixos, observando-os. As teias vibraram. Algo avançou, lento e arrastado, fazendo estalar galhos secos que nunca deveriam ter quebrado sozinhos.
O grupo inteiro recuou um passo — exceto a ruiva. Ela ergueu a varinha com firmeza, o rosto banhado de suor frio.
“Não vamos correr”, disse, a voz baixa, mas sólida como pedra.
Thorin aproximou-se dela, sem encostar, mas perto o bastante para que Lívia sentisse o calor de sua presença, o único calor ali.
“Fique atrás de mim, ruiva”, murmurou ele.
“Nem se eu quisesse”, respondeu ela, os olhos presos ao breu vivo.
As luzes piscavam. Algo se arrastou mais perto. Bombur ainda dormia ao lado deles, sorrindo como se sonhasse com banquetes enquanto o mundo afundava em trevas.
De repente, as árvores estalaram como ossos. As sombras se contorceram. Os olhos, antes distantes, surgiram a poucos passos — enormes, luminosos, famintos.
O bruxo loiro puxou Lívia pelo braço, mas ela resistiu, plantando os pés no chão.
“Lumos Maxima!”, gritou.
O clarão explodiu entre eles e a criatura, empurrando a treva para trás por um único instante — um único suspiro de luz. No clarão, viram silhuetas de patas longas, mandíbulas distorcidas, teias pulsando como artérias.
Então a luz se extinguiu. E Trevamata finalmente respondeu, com um som que não vinha de garganta alguma — um som que parecia nascer da própria escuridão: um rugido sem voz, um vazio que devorava o ar, um silêncio negro que caía sobre eles como uma cortina.
A verdadeira travessia só começara ali.