ela andava cansada de existir,
com o corpo pesado demais pra ser corpo
e o peito apertado como se o ar tivesse medo dela.
o coração batia rápido,
não por amor,
mas por desespero.
era um som que lembrava vida,
mas que doía como morte.
os dias passavam iguais,
sem cor,
sem vontade.
a comida perdia o gosto,
as músicas perdiam o sentido,
os sorrisos eram apenas movimentos mecânicos
ensinados por quem sobrevive fingindo.
ela se odiava —
não por querer,
mas por não saber como gostar.
queria chorar,
mas os olhos aprenderam a secar antes das lágrimas.
queria sentir algo,
mas só restava o enjoo,
a garganta apertada,
a respiração fraca,
e o coração pedindo pausa.
ninguém via,
porque ela era boa em esconder o abismo.
boa em parecer viva.
e no fim,
quando o espelho a encarou de volta,
ela percebeu:
tudo o que descrevia —
era só eu.