Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem nas sombras, não me disse: - vai, Patricia, ser gauche na vida. Mas provavelmente soprou em meus ouvidos a loucura maior do que ser esquerda. A da escrita. Desde que peguei no lápis, ou antes, já que verbalizava histórias imensas antes mesmo de lidar com o bê-a-bá, eu já dizia quem era: sou escritora. 
Era o que dizia que seria quando crescesse.
Claro, que os adultos diziam, cientes da realidade dura que me cercava: - Escritora, onde já se viu?! Crianças não querem ser escritoras. Crianças são professoras, médicas, enfermeiras, nunca escritoras. Crianças que querem ser escritoras, acabam em sanatórios ou na rua...
Mesmo assim, a escrita em mim, consolidava-se furiosamente.
Queria meu livro, com o meu nome na capa. Então começou a maratona de enviar originais para editoras. Todas recusaram. Foi quando a realidade, começou a me tocar com seus dedos longos e gelados. Eu não me encaixava nos padrões. Minha escrita não tinha padrão comercial - resposta padronizada que recebia.
Ainda assim, escrevia. Era a única coisa que realmente sabia e queria fazer.
Mas ai a gente cresce. os "Nãos" vão ficando mais dolorosos. De repente você está trabalhando, de repente, você está casada, com filho e a escrita vai virando um daqueles sonhos da infância, quase como ser astronauta, ou alienígena; E você finalmente entende o livro " O Feijão e o Sonho".
A escrita é o que sou, é o que me define, é o que me faz sofrer, é o que me traz alegria.
Há alguns anos, vinha me perdendo nessa luta sobre qual era minha essência. Acho que hoje me reencontrei com a menina que deixei lá atrás em algum momento. E ela que tem me carregado pela mão e me feito entender que eu nunca deixei, ou vou deixar de ser, a contadora de histórias. Eu escrevo porque respiro. E sem respirar, não se vive.
  • JoinedNovember 15, 2016




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