Carta aberta à Gracinha. [PARTE 2]
E, se eu fechar os olhos ainda posso ouvir, muito longe, a tua voz falando sobre a sereia.
Você também se lembra?
Mas também escuto a voz dele.
O seu pai olhou no fundo dos meus olhos na primeira oportunidade que teve.
Me perguntou se tínhamos algo.
Eu menti.
Ele concordou e disse que não saberia o que faria, se fossemos o que ele pensava.
Depois disso, fui me afastando.
Não porque eu não te amava, longe disso. Não porque você não era suficiente.
Me afastei porque tive medo. Ele poderia quebrar as minhas costelas e me deixar inconsciente: Eu não me importaria. O meu maior medo, era você.
Pequenininha desse jeito, não deveria aguentar nada do que aquele nosso relacionamento acarretaria. Tive medo do que ele poderia fazer com você.
Naquele tempo, não pude te dar uma casa pra morar, nem por uma aliança no teu dedo. Mas pior do que tudo isso, não pude te tirar de lá.
Hoje, entendo que nunca fui digna de nenhum dos seus sorrisos, dos teus beijos. Das tuas palavras bonitas.
Por isso, não posso pedir que voltemos a nos falar: eu não daria conta. Mas posso pedir desculpa, por ter agido daquela maneira. Mesmo sabendo que também não mereço o seu perdão.
No ano passado, fiz um retrato seu.
Tinta a óleo.
Me deu alergia nas mãos.
E olhar pra você, pendurada na parede da sala, sem poder dizer pra ninguém que aquele quadro que meus familiares enalteciam, era na verdade um tributo aos meus erros, o retrato do meu primeiro amor.
Você.