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Se você me encontrasse na rua provavelmente diria-me um cara de meia-idade, meio-sério e meio-careca. Cara de burocrata, de gente que cumpre o horário e engraxa o sapato. 

Se o fizesse, eu não teria cara para negar. Primeiras impressões são parte do enredo. 
Gosto delas.

Mas não contam tudo.

Por trás do burocrata tem o maquinador de sonhos e de mundos, de apelos, tropeços e trupes.

Sob os sapato correm os rios de monstros e desejos, os mitos e as paixões. 

Por trás da cara meio-séria tem o fantástico tomando conta dos cantos e a alegria irreverente do sorriso das crianças (sou pai).

Por trás da meia-idade e do meio-careca não tem nada. Essas contam a verdade integral dos fatos, admito. 

O problema é que são tendenciosas. Tendem ao aumento, ao todo, já que, no fim, a idade será inteira e a careca plena.