Eu queria tomar um cafezinho preto com Machado de Assis enquanto o ouço destilar suas críticas mais ácidas. Observar Clarice Lispector chorar todas as suas dores. Quero conversar sobre este mundo estável, barulho e estranho com Zygmunt Bauman.
Morar sozinha em uma casa de praia com uma execelente vista para o céu estrelado durante à noite e uma estonteante biblioteca para passar o dia. Afugentar-me-ia em minha própria companhia. Eu não tenho medo de estar só. Talvez sentir-me só. Mas existe um certo prazer nas músicas francesas que escuto, nos livros que leio, no sol que abraça o meu rosto e no vento que afaga meus cabelos.
Às vezes, se isso não entediasse as pessoas, gostaria de compartilhar minhas ideias. Embora, devo acrescentar, sejam um tanto quanto absurdas.
Me sinto como uma tempestade. Uma bagunça. Mas também um grão de areia. Pequena. Tão frágil que poderia quebrar nos menores dos toques. Me sinto poeta. Às vezes até a poesia.
Talvez eu também seja um pouco como Dom Quixote. No livro, de tanto ler livros de cavalheiros andantes resolveu se aventurar mundo a fora como um.
Nunca me mantive em silêncio. As engrenagens dentro de minha cabeça nunca param. Mesmo quando estou fadigada, minha mente viaja para outros mundos. Certas horas me prendo ao momento. Em vão tentando capturar cada forma, cor ou sorriso.
Tenho esperanças, tenho sonhos. Sinto-os tão palpáveis nesse exato momento, tão atingíeis quanto a mesa em que escrevo ou o teclado em que de maneira ágil digito.
Talvez todos os sonhadores, estudantes idealizadores sejam um pouco loucos. Que me custa sonhar? É do que sou feita.
Momentaneamente, o que existe em mim é tão complicado, difícil de se decifrar. Às vezes, sinto-me tão leve. Eu quero conhecer a ilha. Já diria o bom José Saramago, preciso sair da ilha para ver a ilha. Sequer nos vemos se não saímos de nós.
- JoinedMay 30, 2018
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