UmSerIdiota

Ah, não, não tô não 

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          Comemore os 13 anos do Letras
          
          Clarisse
          
          Legião Urbana
          
          
          
          Estou cansado de ser vilipendiado
          Incompreendido e descartado
          Quem diz que me entende nunca quis saber
          
          Aquele menino foi internado numa clínica
          Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
          Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
          Como uma ampulheta imóvel, não se mexe
          Não se move, não trabalha
          
          E Clarisse está trancada no banheiro
          E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
          Deitada num canto, seus tornozelos sangram
          E a dor é menor do que parece
          Quando ela se corta ela se esquece
          Que é impossível ter da vida calma e força
          
          Viver em dor, o que ninguém entende
          Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
          Uma de suas amigas já se foi
          Quando mais uma ocorrência policial
          Ninguém me entende, não me olhe assim
          Com este semblante de bom samaritano
          Cumprindo o seu dever como se eu fosse doente
          Como se toda essa dor fosse diferente ou inexistente
          
          Nada existe pra mim, não tente
          Você não sabe e não entende
          
          E quando os antidepressivos
          E os calmantes não fazem mais efeito
          Clarisse sabe que a loucura está presente
          E sente a essência estranha do que é a morte
          Mas esse vazio ela conhece muito bem
          
          De quando em quando é um novo tratamento
          Mas o mundo continua sempre o mesmo
          O medo de voltar pra casa à noite
          Os homens que se esfregam nojentos
          No caminho de ida e volta da escola
          A falta de esperança e o tormento
          De saber que nada é justo e pouco é certo
          E que estamos destruindo o futuro
          E que a maldade anda sempre aqui por perto
          
          A violência e a injustiça que existe
          Contra todas as meninas e mulheres
          Um mundo onde a verdade é o avesso
          E a alegria já não tem mais endereço
          
          Clarisse está trancada no seu quarto
          Com seus discos e seus livros, seu cansaço
          Eu sou um pássaro
          Me trancam na gaiola
          E esperam que eu cante como antes
          Eu sou um pássaro
          Me trancam na gaiola
          Mas um dia eu consigo resistir
          E vou voar pelo caminho mais bonito
          Clarisse só tem 14 anos