"Aquele lugar parecia zombar dela com todo o esplendor que possuía. O piado afinado dos pássaros e a luz dourada que o entardecer projetava nas folhas e flores pareciam apenas vestígios de uma realidade saída diretamente de um conto de fadas. Tudo parecia perfeito demais. Bom demais para ser verdade.
(@) não conseguiu evitar que um grunhido irritado escapasse da garganta dela. O grito transmitiu todo o ressentimento que sentia por possuir um coração tão tolo batendo dentro de si. Um órgão inútil a ponto de reagir esperançosamente diante a possibilidade dos últimos acontecimentos não serem fruto de um surto psicótico. Por um momento, ela sentiu pena ao abafar a própria frustração na pobre almofada que antes mantinha sob a nuca mas o sentimento não durou muito, (@) não suportaria ter que dar explicações a respeito daquilo, não podia se permitir ser humilhada por acreditar em uma maldita peça pregada pelo destino.
Uma maldade a qual jurou que iria desaparecer assim que despertasse do sono que a embalou. O fato de tudo aquilo ter permanecido intocado havia começado a mexer com os sentidos dela. Ela mal conseguia olhar por muito tempo para as molduras pregadas acima da cristaleira de madeira... Era difícil ver a si mesma em diferentes poses e ângulos, sem conseguir lembrar de ter de fato feito ou vivido nada daquilo.
Aquela vida feliz cheia de amor, cumplicidade retratada e exibida orgulhosamente por toda a casa, não pertencia a ela, as circunstâncias atuais não negavam isso. (@) não podia simplesmente se acomodar naquele ambiente saudável e agir como se a ilusão de realmente possuir aquela realidade podia ser retirada das mãos dela a qualquer momento. (...)"