Coraline Lytvynenko, a quem apontavam como não-boa, carregava sobre si um fardo que transcendia o julgamento de suas ações. A vilã do Acampamento Meio-Sangue, aquela que, segundo os murmúrios que ecoavam entre os chalés, mantinha todos à distância, não por orgulho, mas por uma reserva gélida que poucos ousavam questionar. Ela, cuja alma parecia tão intransponível quanto as muralhas do Olimpo, revelava em seus olhos uma intensidade que fazia vacilar até os mais ousados. Não era preciso que dissesse em palavras o desprezo que nutria pelos deuses; seu silêncio já era um grito mais alto do que qualquer acusação poderia carregar. E entre todos os deuses que habitavam o imaginário daqueles jovens guerreiros, nenhum recebia seu desprezo de forma tão vívida quanto Psique, sua mãe divina e, outrora, seu mais alto ideal.
"Ela é linda como uma flor, mas é venenosa," dissera Luke Castellan certa vez a Percy Jackson, um recém-chegado. E ainda assim, por trás de cada palavra de desprezo, Luke sabia - com uma certeza que talvez o envergonhasse admitir - que Coraline era a única alma naquele lugar inteiro capaz de compreender o peso de seu coração. Ele, que era ao mesmo tempo seu crítico e aliado, entendia que, por trás das camadas de silêncio e desprezo, havia nela um vazio tão profundo quanto o que ele próprio carregava. A diferença era que ela não escondia.
