Sou um fantasma de muitas vidas,
Umas passadas, outras perdidas.
Sou ouro na ganga, no fundo sou lama;
Sou macio no abraço, sou duro na queda;
Sou gelo no copo, sou fogo na pira;
Sou corpo que fica, sou alma que parte;
Sou um espírito que anda.
Sou a alegria, sou a coragem, sou o acalanto;
Sou o medo, sou a dor, sou o espanto;
Sou hoje, fui ontem, nada sei do amanhã.
À unha abri minha estrada
E de fasto não tive nada.
Cara feia pra mim é carranca,
Chão sem fundo é só buraco,
Morro cortado é barranca,
Pedaço de vidro é caco.
Rio que anda é correnteza,
Meio certo é a toda a incerteza.
Não paro em cercas e em muros,
Não tenho papas na língua,
Não tenho medo de escuros,
De certo não morro à míngua.
Se é cavalo bravo eu amanso,
Se é cão feroz eu assusto,
Se estou na chuva me molho,
Mas não troco pato por ganso.
Se a água é rasa cruzo no passo,
Se a água é funda corto no braço,
Se é seixo rolado tiro no chute,
Sobre as pedras salto de lado.
Pelos rios passo nas pontes,
Ou a nado busco horizontes.
Se me perguntam certo respondo,
Mas se não sei me quedo calado.
Quando vejo a noite chegando
Me abrigo nas cercanias
E tão logo o dia raiando
Me embrenho nas matarias.
Sou um fantasma de muitas vidas,
Umas passadas outras perdidas.
Ser assim não é meu querer
É carma, destino ou sorte,
É a vida que troca a morte
Pelo direito de nascer.
Edimar Teixeira da Silva, Brasília-DF, 29/03/2004.
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