Gabriel, sim, ele tem os pés fincados no concreto da vida, mas há algo de esquivo em seu olhar, como se a realidade, essa mesma realidade que ele toca, fosse um véu que ele não quisesse tirar, não quisesse despir. Ele vê tudo com uma distância desconfortável, como se as opiniões que vêm dos outros não fizessem parte de sua essência, como se fosse possível viver sem o peso do julgamento. Ele desvia de tudo que é óbvio, prefere o labirinto, onde é possível andar sozinho, mesmo que sem rumo.  

Gabriel se perde nas melodias, aquelas que falam sem palavras, aquelas que tocam o que não é dito, que chegam ao fundo, mas de uma forma que ele entende - ou talvez, se perde entendendo. Porque, ao mesmo tempo que se deixa levar por aquilo que é mais verdadeiro para ele, ele não sabe como lidar com quem se aproxima, com a intensidade dos outros, com as mãos que querem tocá-lo de uma forma que ele não sabe corresponder. É como se o mundo se enredasse em sua cabeça, mas ele não conseguisse encontrar os fios para desatar.

Gabriel é frágil, mas o disfarça bem. A dor que ele sente se dissolve antes de sair de sua boca, engolida pela vergonha ou pelo medo de ser visto. Ele sabe que o peso do olhar alheio o atinge, que as palavras cortam de forma que ele não consegue impedir, mas não se permite admitir isso. E, no entanto, ele se quebra em silêncio, sem nunca deixar que ninguém veja o estilhaço. Ele guarda tudo, tudo em seu peito.

No fim, Gabriel é o garoto bonito que vive a beleza da vida como uma promessa, mas uma promessa que nunca se cumpre completamente, pois há algo nele que nunca se encaixa, nunca se resolve. Ele é humano, tão humano, que vive e respira a sua própria contradição. Ele é esse paradoxo, tão sensível e, ao mesmo tempo, tão preso ao que não pode ser dito, tão cheio de luz e, ao mesmo tempo, perdido na sombra.
  • JoinedJanuary 7, 2015




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