Oi meu amor, lembra de mim? As vezes eu dou uma passada aqui pra chorar lendo seu mural ou te cutucar, nada demais (também já disse que sou tua fã — e sou mesmo).
Mas hoje eu vim te mostrar um poema que escrevi. Se estiver com tempo, quero que leia e me conte o que ele passa pra você. Te escolhi pra fazer isso porque com toda a certeza você é a pessoa mais poética que eu já conheci. Enfim, sem mais delongas, aqui está:
Eu nunca fui a favor do jardim de ervas daninha que você mantinha no seu quintal. Você sabe que a casa nunca foi nossa, não sabe? Sabe que era eu quem esperava por você e nunca você por mim, não sabe? Naquele quarto escuro, empoeirado e gélido que você chama de coração. Eu já estive lá. Não trancada, mas acorrentada, com a porta aberta para eu contemplar todos os dias a saída pela qual eu nunca iria passar. Você sabe que sempre me teve. Você "sempre esteve ao meu lado" e, adivinhe? Eu também estive do seu! Mas cada um no seu quadrado, eu daqui e você de lá. Sabe a diferença? Do outro lado da batente, qualquer um escuta a minha voz. Mas nem com a porta aberta eu sinto tua pele. A verdade é que eu entrei naquele quarto já me despindo, eufórica e extasiada. E você, ainda calçada. Acredita que eu nem percebi? Você me observando enquanto eu me envolvia sozinha numa energia intensa que só emanava de mim?
Ainda assim, um ano depois, eu saí. As correntes enferrujaram. E eu estava nua. Exposta de corpo e alma para você.
A garganta dolorida; de tanto gritar.
Os olhos inchados; de tanto chorar.
Os pulsos vermelhos; de tanto lutar.
O quadril dormente; de tanto esperar.
Você também mudou; cortou o cabelo.
E não me leve a mal; estava linda.
Mas continuava vestida.
Você sabe que nunca foi amor, não sabe? Sabe que as ervas nunca parecem daninhas sob o solo, não sabe?
Eu me pergunto o que a fez descobrir.