Não há como explicar o que é estar trancafiado dentro de si mesmo. O que é não ser capaz de sequer sorrir, chorar, ou esboçar qualquer tipo de reação. O que é sentir-se sufocado e com náuseas, incapaz de libertar o nó que lhe aperta a garganta. O que é ter a alma em prantos mas o corpo não. Inerte, como que preso à um coma de olhos abertos. O mundo está se passando ao redor, o relógio permanece em seu tic-tac incessante, as pessoas seguem com suas vidas. E você nada. Nada. Não sente nada, teu físico foi consumido pela dor e tua alma atingiu um patamar tão grande de exaustão que, quem diria, sente até falta de quando chorava à plenos pulmões no quarto. Se deita à noite e pede, antes do sono, por favor, que eu não desperte amanhã. Porque está farto de não conseguir distinguir se está vivo ou morto. Todos colocam a cara para fora, trabalham estudam, vão à padaria e ao supermercado. Se alimentam, três vezes ao dia (qual foi a última vez que comeu?), tomam banho, se perfumam, penteiam os cabelos. Princípios básicos que você não se vê capaz de realizar.