Tinha 6 quando o conheci. 
Ele vivia num enorme palácio. Transformava-se num enorme dragão.
Não tinha medo de ninguém. Fazia o que queria, quando queria. Vivia aventuras inimagináveis. 
Sempre quis ser Ele. Viver o que ele vivia. Correr o mundo que ele corria. Mesmo que perdesse quem ele perdera. 
Crescemos juntos. Ele escapulia-se até ao meu quarto quando ninguém estava a ver, e virávamos o mundo do avesso quando ninguém estava a ouvir.
Até ao dia em que me olhei no espelho e me apercebi de que Eu não era Ele. De que Eu nunca poderia ser Ele. 
Devia ter pouco mais de 10 anos quando o deixei fugir para o seu mundo. Quando fiquei para traz a tentar fugir do meu mundo.

Uns anos depois acordei. Olhei em frente, ainda sonolenta, e vi-o, ali, empoleirado na ponta da minha cama, estendendo-me a mão, perguntando-me com os olhos "Vamos?". Senti o peito cheio de novo, porque agora eu sabia a verdade. Eu nunca poderia ser ele, porque ele era parte de mim.

Agora vivemos lado a lado como o "Um" que sempre fomos. Vivemos num palácio enorme que roça os céus. Somos dragões enormes que desafiam as leis da imaginação. Não temos medo de ninguém. Fazemos o que queremos, quando queremos. Vivemos aventuras inimagináveis. 
Cresceremos juntos. 
Abriremos as portas para quem quer que queira escapulir-se para o nosso mundo aos olhos de todos. Para quem quer que queira virá-lo do avesso, ser ouvido por multidões.
Até ao dia em que nos olhemos no espelho e não teremos medo de ser quem somos.

Eu e o meu Amigo Imaginário