há dois dias, eu tentei tirar minha própria vida. tomei sessenta comprimidos com a intenção clara de morrer. por trabalhar na área da saúde, tive fácil acesso aos medicamentos. enquanto vomitava, minha mãe insistia para que eu fosse à UPA. eu não queria, mas acabei cedendo.
lá, fui atendida entre vômitos e confusão mental. a médica precisou ligar para uma unidade de intoxicação para receber orientações sobre meu caso. fizeram exames de sangue, eletro, e decidiram me transferir ao hospital. a equipe de enfermagem foi excelente comigo.
chegando lá, enquanto eu quase apagava, lembro da minha mãe contar que a bolsa de uma grávida tinha estourado no corredor. achei irônico: enquanto eu lutava entre a vida e a morte, um novo ser estava prestes a nascer. a vida e a morte se cruzando no mesmo espaço.
depois disso, fui internada. passei por coletas de sangue, soro, vômitos, um estado mental confuso e apagões. minha mãe chorava, meu pai mantinha um semblante sério, meu irmão adoeceu, meu padrasto se estressou, meus parentes rezaram e acenderam velas. todos preocupados, enquanto eu me afundava no meu próprio silêncio.
consegui alta, mas as consequências ficaram: meu corpo pode ter sequelas nos rins, e agora terei que seguir em tratamento contínuo com medicamentos controlados e acompanhamento psicológico. a dor que me levou a isso não teve culpados punidos, mas eu sigo aqui, mesmo que machucada.
compartilho isso não para causar pena, mas para lembrar a vocês: não guardem tudo para si. mesmo quando parece que ninguém escuta, há sempre alguém disposto a ouvir. vocês não estão sozinhos. eu quase escolhi o caminho sem volta, e não desejo isso a ninguém.
se você precisa de ajuda ou apenas de alguém para conversar, saiba que eu estarei aqui. setembro amarelo é sobre isso: sobre lembrar que a vida, por mais difícil que pareça, ainda merece ser tentada.