Das profundas ravinas de seu coração amargurado nasceu um lírio do vale. Ele cintilava, alvo e sutil, em meio às pontiagudas rochas de seu coração. Acredito que nem mesmo você acreditou quando o viu. Deve ter caído do Céu em uma noite estrelada. Era pequeno; nunca prosperaria naquele solo feito piche arenoso.
Contudo, você o viu ganhar força. Suas raízes ficaram mais profundas. Aquela flor prosperou em solo infértil. Para você era impossível um acontecimento daqueles. Mas o pequeno lírio do vale apenas expandia cada vez mais suas raízes. Elas se enroscavam nas rochas, desciam fundo, faziam seu percurso não se importando com as consequências. Com paciência, outras brotaram. E mais outras... E outras...
Até que um jardim delas se formou. Lindas, alvas, cintilantes! Com raízes tão profundas que jamais poderiam ser arrancadas. Como erva daninha, cobriram as rochas. Como estrelas, cintilavam à Luz, dona da noite. Os lírios do vale iluminaram todas as ravinas de seu coração amargurado.