Draco me encarou durante toda nossa aula de Política, mas fiz questão de manter o olhar fixo no quadro e na professora, uma senhorinha de cabelos grisalhos que precisava da sala completamente quieta e mais um pouco para que pudesse se fazer escutar. Mesmo assim, a sensação de seu olhar sobre mim era agonizante, quase sufocante; ele constantemente contorcia seu pescoço em minha direção, conseguia ver seus cabelos dourados pelo canto dos meus olhos, meus dedos apertando com tanta força a caneta que a senti rachar em uma das pontas. Ele estava sentado ao lado da garota com quem o vi mais cedo, a mesma com a mão em sua coxa, ou em seus cabelos ou às vezes em sua cintura, como se não estivesse em uma sala de aula.
— ... pontualmente. — disse a professora, olhando para a própria bagunça que havia criado no quadro negro. Ela então virou-se para todos nós, com aquele seu olhar gentil e sorriso de vovó, os cabelos cacheadinhos e branco, um brinco rosa pendurado na orelha. — Eu envio um plano melhor por e-mail, queridos. Não me deixem esquecer.
Ela olhou para o próprio relógio e, com o dedo apontado para cima, ela riu baixinho, segundos antes do sinal tocar: — Vocês estão dispensados, não esqueçam do trabalho final sobre imperialismo.
Política é uma disciplina eletiva que, casualmente, Draco e eu frequentamos, antes mesmo de nos falarmos pela primeira vez. No entanto, ela não é uma das mais concorridas, muito longe disso, então os poucos alunos se levantam quase que rapidamente, desaparecendo em poucos segundos. Reuni minhas coisas, puxando a mochila para as minhas costas, e já estava deixando a sala quando senti meu braço sendo puxado para o caminho contrário, de volta para a sala de aula. Contra a parede, olhei para Draco, os cabelos loiros bagunçados.
— Você me ignorou a manhã inteira.
— É mesmo? — tentei parecer o mais inocente possível, mas minha voz não conseguia esconder o sarcasmo e, principalmente, o rancor. — Eu nem percebi que você estava tentando falar comigo.
Draco olhou sério para mim. — Onde você está com a cabeça?
— Em você que não é — puxo sua mão, tirando-a de mim e sigo meu caminho, passando pela porta. Draco se obriga a caminhar lentamente ao meu lado, para não chamar nenhuma atenção. O corredor, de qualquer forma, já estava quase que completamente vazio.
— O que eu te fiz, hein? — ele disse, quando já estávamos quase na porta dupla que levava para o pátio principal.
Parei, respirei fundo, apertando com força as alças de minha mochila contra meus ombros. — Vamos lá, você pode responder isso pra si mesmo e pra mim também.
Ele ergueu as sobrancelhas, confuso, e eu fiz a mesma coisa. Então, do interior de sua mente, ele entendeu, seus olhos brilhando repentinamente, e sorriu, um sorriso sacana, quase inocente. Ele se encostou na parede, um dos pés contra a mesma. Ele enfiou seu rosto na mão direita, abafando uma risadinha.
— Você está falando de Tarine? — ele disse. — Ela é uma amiga.
— Amiga? — pergunto, para reafirmar.
— É, amiga — ele se coloca ereto novamente. — Eu tenho amigos, Harry.
Me surpreendo com sua resposta e me afasto levemente. — Você transa com essa amiga?
Ele também parece surpreso, pela forma que sua boca se abre e se fecha em poucos segundos que até consigo ver as engrenagens de sua cabeça preparando uma resposta, processando aquele código. Agora estamos sozinhos, escuto apenas as risadas ao longe perto da cafeteria e alguns poucos alunos subindo as escadas em direção ao segundo andar; ao fundo, nossa professora de Política atravessa em passos lentos o corredor em direção à sala dos professores. O silêncio perdura por alguns segundos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O último clube audiovisual - DRARRY
FanfictionHarry acabou de se mudar para sua terra natal, depois de passar anos viajando com os pais e pulando de país em país. Perdido em seu próprio lar e excluído dos outros alunos, Harry acaba encontrando um porto seguro em Draco e em um antigo clube audio...