Capítulo 1

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O vento gelado chicoteava em seu rosto, Vágmat voava rapidamente. Aquele era o único momento em que Ayla se sentia completamente confortável. Longe de todos, longe dos livros que decorou e que sabia de trás para frente.

Desde cedo estudou muito por conta de sua mãe, não era muito boa fazendo os feitiços de fadas que ensinavam, já que ensinavam feitiços da luz e Ayla era um ser das trevas. Mas, ela sabia toda a parte teórica sobre eles.

Electra fez o que Hera ordenou, tornou Ayla brilhante. A escolhida possuía uma inteligência e sabedoria invejável.

— Está com sede? É melhor pararmos para beber um pouco de água — A voz rouca e estridente do dragão invade os ouvidos da fada tirando de seus pensamentos.

— Estou bem. — Ayla olha para as montanhas. — Estamos voando a noite inteira, você é quem deve estar cansado. — Ela acaricia as costas escamosas de seu amigo.

Vágmat sorria enquanto se sentia desafiado. O dragão do fogo pousa próximo ao castelo tão rápido, que ao colocar seus pés sobre o chão coberto de gelo Ayla vomita.

— Que nojo! — Exclama o dragão. — Para uma fada pensei que estivesse acostumada a voar.

Ela o olha com raiva fazendo-o rir.

— Até logo, fada de estômago fraco!

Ayla entra no castelo e passa despercebida pela família real. Suas botas cobertas de gelo deixaram seus rastros.

Os fins de semana eram os únicos dias que a permitiam passear com o dragão, o resto dos dias eram apenas treinamento e estudo. Se sentia fraca nos treinos, apesar de ser considerada inteligente, falhava muitas vezes na parte prática.

Todos são treinados desde muito cedo para conseguir passar no treinamento oficial. Os jovens aprendiam a usar seus poderes e a lutar para as guerras. Desde sempre foi assim, rainha Ângela sabia da guerra que aconteceria, queria garantir que seu reino estivesse preparado.

— Ayla! — Electra exclama. — Por onde esteve?

— Estava voando com o Vágmat! — Ela responde retirando sua roupa enquanto caminhava até o banheiro.

Quando Vágmat apareceu sua mãe a proibiu de vê-lo, mas o dragão a informou que Hécate o deixou encarregado de proteger a escolhida. Ele se tornou muito mais que um protetor, sem querer acabou sendo visto por Ayla como uma figura paterna.

— Passou a noite inteira fora. — Sua mãe a segue. — Irá pegar um resfriado.

A garota ignora sua mãe enquanto entrava na banheira feita com madeira velha. A água estava morna, o que não ajudou no frio que estava sentindo. Bem a frente havia um espelho que revelava a bela figura de Ayla. Ela se achava muito bonita, apesar de quase nunca se arrumar, simplesmente não conseguia se preocupar com nada que não fosse os seus estudos. 

Apesar de morar no castelo e ter uma excelente relação com a rainha, Electra não ousava pedir algo por vergonha, deixando-a e a filha na miséria por conta de seu orgulho.

Ainda tremendo, Ayla pega um pouco de água com a mão despejando em seu ombro.

— Amanhã é a seleção para o treinamento oficial. — Electra se ajoelha na altura da banheira enquanto ensaboava as costas da filha.

— Eu sei. Se depender de força física ficarei na turma iniciante.

Sua mãe esfrega fortemente a bucha contra sua pele fazendo-a soltar um grunhido de dor. Electra odiava o pessimismo da filha, odiava ainda mais saber o motivo de ela não conseguir executar muito bem os feitiços de fada. Sempre diziam que a genética de um demônio é mais forte que qualquer outra, obviamente Ayla iria herdar a parte demoníaca de seu pai.

Coroa de Agulhas - Círculo de Fogo (Degustação) Onde histórias criam vida. Descubra agora